19/06/2012
A Rua da Bomba .

Na casa dos meus pais ( João Chiati e Lourdes), pelos fundos do quintal, havia um portão que dava acesso a uma interessante  rua da Vila Leão.Pelo que consigo ainda lembrar, era praticamente intransitável, uma espécie de viela onde se convergiam todos os outros os portões das demais casas daquele trecho.Adultos pouco utilizavam a passagem.Carro então, nunca vi passar.Acho que nem  era possível, pois o caminho era estreito e para complicar existia um poço desativado,localizado bem em frente ao quintal da   minha casa.Era a  Rua da Bomba.A existência do  equipamento deve ter originado o nome.E por certo em alguma época deve ter fornecido água às  casas locais.Nunca soube detalhes.Mas o que importa mesmo,  são   os acontecimentos. Ali, na década de 60, nos finais de tarde era comum, nós crianças, nos encontrarmos para brincar.Ao redor do poço circundado por uma mureta de cimento, nos divertíamos  até o início da noite ,quando então  só as estrelas no céu iluminavam o espaço.Inesquecíveis foram  nossas brincadeiras ao entardecer naquela  silenciosa ruela  da Vila.As meninas brincavam com as bonecas ou  de passar anel.Os meninos com suas figurinhas, faziam campeonatos  de bafo(nome do jogo).Outras vezes rodavam pião e jogavam bolinha de gude. Lembro perfeitamente que eu, minhas irmãs Joana e Isabel, marcávamos ponto  ao redor do poço.Sempre tínhamos a presença de outras  crianças e  companhias assíduas  foram  as dos irmãos  Luzia e Ademar (família Cardoso), que moravam ao lado da nossa casa.Aquele lugar meio que clandestino, escondido num beco  sem saída, exercia um fascínio na criançada da vila . Fecho meu olhos e consigo me  ver ali, sentada na  borda da mureta que se estendia  formando um  banco largo de concreto  e que me afastava  da abertura do poço.Gostava de ficar sentada sobre  aquele cimentado  sempre morno, aquecido  pelo forte sol do dia .O lugar   nos acolhia naqueles fins de tarde  de uma forma tão aconchegante,que esquecíamos do tempo.Víamos o por do sol , a noite se aproximando.Ouvíamos   os sons dos grilos, dos sapos  e  das aves noturnas. Algumas vezes, eu ouvia um rádio, bem distante, tocando a triste e melancólica Ave Maria.Mas quando as estrelas forravam o céu,  era a hora de entrar.Deixávamos a Rua da Bomba  novamente solitária e lúgubre.No dia seguinte, retornávamos ao ponto de encontro e ela mais uma vez se enchia de energia e vibrações de alegria da criançada.E tudo se repetia.Mantivemos este hábito por muito tempo .Tornamos aquele espaço escondido tão importante como outros  redutos de nossas brincadeiras.A Rua da Bomba foi nosso refúgio, nossa rendição depois de tantas peraltices.Oculta entre casas e quintais abrigou crianças ingênuas e simples  que desconheciam perigos e medos .Ofereceu-nos  um tempo de paz.  Ofertou-nos  com  um convívio saudável,amigável   marcado por risos,brincadeiras e muita felicidade.Hoje só me resta recordar da Rua da Bomba.Nada dela  restou.Foi enterrada no passado,abandonada  por suas crianças e pelo progresso .Ao seu lado repousam outros recantos também inesquecíveis da encantadora Vila Leão e que nos matam de tanta saudade.


Fátima Chiati

Leia outras matérias desta seção
 » A Semana Santa na Vila Leão
 » Religiosidade e religião de amor
 » Caminhar é preciso
 » Recordações da Av. dos Estudantes
 » Os gênios do Colégio Walter Weiszflog
 » Fragilidades de todos nós
 » As mentiras na Internet
 » Reverências aos nossos amores
 » O amor fora do ar
 » Amor, política e relacionamentos
 » As históricas enchentes de Caieiras
 » Homenagem às mulheres
 » Algo mais
 » Trégua de Natal
 » Atitudes de autoajuda
 » O dia de finados
 » Mãe é aquela que cria
 » A internet não esquece
 » Capelinha da Vila Leão
 » Benzedeiros e benzeduras

Voltar