04/11/2016
Luzia um drama comum

Um dia, lá atrás , quando ainda sonhava com minha liberdade financeira, percebi que podia ser ESTETICISTA.
Por quê?
Bem, sempre gostei de coisas que levavam a beleza, à melhora de nossa autoestima e principalmente, gostava de conversar, ouvir e cuidar de pessoas.
Ainda criança, já fazia minhas alquimias.
Aprendi a conhecer ervas para curas, para chás e etc., então eu as usava para fazer "máscaras", que colocava em meu próprio rosto.
Algumas vezes saí queimada, pois certos princípios ativos não foram idealizados pela natureza para os fins que eu queria.
Mas devo dizer que consegui, seguindo meus conhecimentos, fazer algumas máscaras e cremes, que deram certo.
Digo isso porque hoje, depois de trabalhar 25 anos com estética, percebi que muitos cremes usam as tais ervas que eu conhecia há tanto tempo atrás.
Como disse, trabalhei durante 25 anos com estética e com certeza, foi maior meu aprendizado com minhas clientes e suas historias do que qualquer escola que frequentei.
Esse é meu objetivo aqui, contar para vocês o que aprendi, o que me fez rir, chorar e vibrar, vivenciando paralelamente a vida dessas pessoas.
Até a próxima...

O começo
Toda história tem um começo, então para poder contar as aventuras com minhas clientes, antes, preciso contar a minha.
Entendi que para buscar minha independência financeira, precisava encontrar algo para fazer, mas que acima de tudo, me agradasse. Dai veio a ideia de estudar estética, já sabendo do meu interesse por cremes e mascaras. Mas, evidentemente, não é assim tão fácil...Você desejar e obter uma formação na velocidade de seu pensamento.
A batalha foi árdua,  com 3 filhos pequenos, sem apoio, já que naquele momento o machismo ainda imperava em minha vida. Mas todos sabem, que os impulsos para um começo, podem vir do amor, da dor ou da raiva. No meu caso, o desafio foi impulsionado pela raiva e por amor aos meus filhos, que embora pequenos, me empurravam para frente, vendo no meu dia a dia a insatisfação de uma mulher, que sabia ter mais a oferecer.
A vontade e o amor próprio, me levaram para frente. Foram alguns anos, estudando, e com a cara e a coragem, começando meu trabalho para aquelas pessoas que dispuseram a me dar uma chance.
Foi assim que descobri que minha sala de trabalho era muito mais que isso. Era o lugar aonde minhas clientes iam para se libertar, para desabafar, para dividir comigo a sua vida, seus anseios, alegrias, tristezas e fantasias.
A parte da estética em si, era importante, mas sozinha não era tudo que elas buscavam.
A confiança aos poucos conquistada em minha pessoa, foi fazendo de cada uma delas, minhas amigas, confidentes, e a partir disso, muitas historias tenho para lembrar e dividir aqui com vocês.
Usarei nomes fictícios, pois a ética profissional ainda impera em minha vida, apesar de hoje estar aposentada.


Luzia (1ª crônica)

Ela entrou timidamente em minha cabine de estética, britanicamente em seu horário, um sorriso tímido, mas franco e me disse: - prazer em conhecer você Selma.
Seu nome para mim ate aquela momento era simplesmente Luzia..e foi como uma simples Luzia, que ela se comportou.
Em minhas perguntas habituais ás minhas clientes, procurava saber o motivo dela estar ali, o quê buscava, o quê esperava. Ela então respondeu: - Ouvi falar de você, queria um lugar discreto longe dos burburinhos dos salões, e acho que encontrei.
Devo dizer aqui, que quando a olhei nos olhos, senti uma emoção inexplicável, como se já a conhecesse de algum lugar, mas não saberia dizer naquele momento de onde e nem como.
Como costumava fazer nas minhas sessões de relaxamento, coloquei uma musica suave, e pedi a ela que fechasse os olhos, respirasse profundamente e se entregasse para aquele momento, esquecendo a vida lá fora.
Muito surpresa fiquei quando minutos depois, já executando meu trabalho, olho para ela, que de olhos fechados, chorava silenciosamente.
Somos treinados em nossos cursos, a lidar com situações raras, difíceis, mas ali, naquele momento, senti uma profunda afeição por aquela pessoa, uma vontade imensa de abraça-la e dizer: - Você não está sozinha!
E foi o que fiz, contrariando as regras de meu trabalho. Ela aconchegou-se em meu abraço, em silencio chorou por vários minutos. E assim depois continuamos na nossa massagem, agora, só restando suspiros profundos, de uma pessoa que precisava soltar aquelas lágrimas contidas, com certeza, há muito.
Talvez por isso, pelo desabafo, pelas lágrimas derramadas, na hora que alcancei a parte superior de seu corpo, eu tenha conseguido entender rapidamente o que se passava. Uma mutilação. Uma horrível cicatriz de um seio perdido.
Fora vitima de um CA e não entendi na hora, porque ainda estava mutilada daquela forma.
Quando a olhei nos olhos, ela simplesmente me disse: - Ninguém sabe! Apenas minha família, por isso eu precisava de você.
Profundamente agradecida a Deus por essa oportunidade, disse a ela: - Posso ajuda-la.
Sorrindo, ela disse: - Eu sei... por isso estou aqui.
No despedimos com um forte abraço e ao remarcar um próximo horário, perguntei seu nome completo.
Ela me disse: - Sou Luzia....e foi aí que quase caí das pernas.
Umas mas mais ilustres damas da sociedade de nossa cidade estava ali na minha frente, me dizendo...
- Gostei de você!

Selma.
 



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