18/06/2018
Depressão: O beijo da morte

Eu beijei a morte!

Senti o frio de seu alento sair de sua garganta enquanto sua mão percorria meu corpo sugando cada átomo de minha energia desgastada e já fétida de vida podre.

Seu hálito putrefado bufava seu nome em meus ouvidos e suas enormes unhas enodoas de sangue ressequido e terra morta, de tantos seres que já visitou morbidamente sacando-lhes a vida; perfuravam meus órgãos com prazer sadomasoquista, arrastando minha carne como um troço imundo, de um lado para outro.

Uivei lastimosamente, envergando minhas vértebras delirantes de dor.

Ela olhava-me seriamente, sem apreço e desdenhosamente, cuspindo empáfia ante minha expressão de assombro e covardia.

Cada pedaço de minhas tripas queimadas a sangue-frio, dilaceravam mais que a impiedosa partida cravada em gélidas palavras na lápide, com definições de mal-amado ser.

E a pouco dignidade restante em minha alma doente eram decepadas colericamente, trazendo às escuras a insignificância e repugnância de mim por mim mesma.

Então, ela gargalhou estridentemente e gritou penosamente sua repugnância pelos covardes em viver.

Uma grande nuvem negra incorporou-se frente a meus olhos, um vácuo abriu-se.

Minhas mãos atadas, meu corpo paralisado.

Hipnotizada.

Uma larga história resumida num enredo patético e sucinto ensurdeciam meus ouvidos e rasgavam minha íris, consoante as imagens de ébrio desamor que por minha vida despreguei a meu ser.

As tantas vezes que ousei pensar em desistir e fui resgatada por anjos em forma de estrelas, as tantas vezes que roguei por sua chegada, as tantas vezes que não hesitei em infligir-me castigo, as tantas vezes que desonrei minha existência, todas as vezes: ali estavam, escritas em grandes letras como sentença condenatória irremediável,

diante meu corpo, em tela preto e branca, esfregadas em minha cara insolente e arrogante ante a dádiva de existir entre tantos amantes de meu ser.

E ela, ela esteve presente em todos momentos, observando cada passo mal marchado.

Sua expressão de escarnio e zombaria retratavam com sarcasmo a chacota frente a pequenez de meu pensar atrofiado a meu umbigo egoísta e satiricamente sofredor.

Ela perfurou meu globo ocular com sua mirada, retraiu vagarosamente suas longas unhas de minhas entranhas.

Séculos de dor anestesiavam as células aglomeradas de meu traje existencial.

Aproximou seu rosto cadavérico ao meu e sussurrou seu repudio as minhas fraquezas.

Sua boca, mal traçada em seu esquelético rosto acercaram-se a meus lábios e, mais uma vez, seu bafo gélido penetrou meu cérebro.

Repugnou-me.

Levitou para trás, exortando-me a viver.

Martirizada vorazmente, a certeza de sua benevolência atascou meu peito.

Terna Morte: ante as inúmeras possibilidades de extinguir minha vida num estrondo de seus tridentes, deixou a Vida como presente.

Agradeci sua insensata piedade por não me quitar da terra dos homens e arremessar-me ao gélido calabouço, que pouco a pouco, cavei com meus dedos trêmulos com esmero de quem quase ama o declínio.

O cárcere eterno não pertence a você!

 

Obs.: De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, 805 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano.

Não existe um cadastro de todos países sobre este numero, o que significa que os são referência apenas dos países que informam os suicídios relatados formalmente.

Portanto, estes dados podem ser bem maiores.

O número de tentativas de suicídio é maior do que o numero de suicídios registrados.

O suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos.

A cada 45 segundos uma pessoa morre por suicídio.

Trata-se da 15a causa de morte mundial.

No Brasil a taxa de suicídios aumenta a cada ano, tornando-o líder em numero absoluto, entre os países latino americanos.

Apenas 28 países têm uma estratégia Nacional de Prevenção de Suicídios.

Em 2003 foi criado pela Associação Internacional para a Prevenção de Suicídios e pela Organização Mundial de Saúde o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio . 10 de Setembro.

Os pensamentos suicidas, a tentativa de suicídio e o próprio ato e machucar-se decorrem de um processo de depressão profunda, e, ou, outros transtornos mentais.

Muito mais comuns do que imaginado, pessoas com depressão profunda têm seus pensamentos aniquilados por uma avalanche de atormentações criadas por sua própria mente.

Um descontrole mórbido leva a incapacidade de pensar liberto do cárcere mental e agonizante.

Não se trata de frescura.

Os pensamentos suicidas estão intimamente ligados a um estado de animo aprisionado na tristeza, ausência de amor próprio, cansaço de si mesmo, distúrbios psico-químicos.

Se você conhece alguém com depressão, passa por isto, ou já passou, por favor, não ignore a necessidade de ajuda imediata.

Uma palavra, um abraço, esclarecimentos, podem salvar vidas.

Isto não elimina a necessidade de cuidados médicos mas seguramente, muitas vezes, impede um ato fatal.

É dificílimo a aceitação da depressão para o que esta imerso nela.

Por esta razão, a ajuda é essencial e faz toda a diferença para o diagnóstico e adequado tratamento.

VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO.

Vamos lutar juntos!

Daniele de Cássia Rotundo

 

 

 



Leia outras matérias desta seção
 » Fim de tarde apocaliptico ou não ?
 » 70 borboletas...
 » Textinho de domingo
 » Flores amarelas
 » TAPACHULA - 3ª parte
 » Poesia do eu
 » Finalmente 26 de dezembro!
 » Ainda em Tapachula 
 » Mudando para o México, destino: Tapachula
 » O que eu fiz até agora ?
 » Onde mora meu Pai ?
 » Cagando no racismo
 » A propósito da Bebel
 » À minha Mãe
 » Paranoias momentaneas
 » Texas: o lugar das armas 
 » A latência
 » Dia Internacional da Mulher?
 » Eu acendi uma vela na mesa da sala de jantar.
 » Sapos
 » Sobre a Costa Rica
 » O custo do diagnóstico
 » Sair da bolha
 » Tudo parecia caminhar para o fim?
 » Eis a minha pergunta: “ faço o que agora”?
 » Estado neardenthal?
 » No mundo dos "Es", pensando como pensar
 » Pensando como pensar
 » 2020 - Cicatrizes na alma
 » João, Pedro e Rita - parte II
 » O mês do cachorro louco
 » O peso das coisas
 » João, Pedro e Rita
 » E se tudo isso não passar
 » Diário caótico sobre o coronavírus
 » Oração de aniversário
 » Encontros & Desencontros II
 » Encontros & Desencontros e o tempo
 » O tempo e a mulher do espelho
 » A mulher do Espelho
 » Sou mas quem não é (pirada)
 » Biblioteca
 » Carta para os olhos vazarem
 » Férias no paraíso, pero no mucho.
 » A dificuldade de recomeçar
 » Texto exclusivamente feminino
 » Meu Amigo!
 » O incêndio no Museu Nacional
 » Diário de uma jovem Mãe
 » Depressão: O beijo da morte
 » Depressão: os ruídos
 » A bolsa misteriosa de Anabella
 » Amizade
 » Em Terra de cego quem tem olho é rei?
 » Inspiração
 » Se disser que esperará, espere!
 » Eu acredito na humanidade!
 » A bituca de cigarro
 » Os filhos voam!
 » Ser limpante ou o trabalho caseiro
 » Carícia da vida
 » A verdade
 » As palavras matam ou morrem ?
 » Matemática simples
 » Família um conceito complexo
 » Altruísta egoísta
 » A pequena bolsa de Anabella
 » À deriva (?)
 » Adeus ano velho
 » Quando o bem não faz bem!
 » Forever
 » Quero Poetar!
 » “O Abutre”!
 » Me permito amar?
 » Quebrar-se
 » A felicidade
 » Impiedoso tempo
 » Quem sou eu ?
 » Esquecer
 » Esquecer @? - Olvidar
 » Fragmentos II
 » Fragmentos
 » Despertemos!
 » Transe no deserto
 » Destino ridículo !
 » O cortiço da vida
 » Círculo de desafetos
 » Sou um vulcão
 » Conversa com a àrvore
 » Encerrar ou cerrar ciclos?
 » A “basura” no México
 » Doença de amor
 » Poesia
 » As regras da vida
 » Os grandes homens....
 » Prelúdio à loucura
 » Razões para amar? Razões para o amor?
 » O mundo perdido dos sonhos!
 » Devaneios de um cérebro ?

Voltar