O mundo era das crianças
Pensar que o se lembrar é o atrair do passado para o presente... .... Quando criança naqueles dias tão claros de sol, as ruas do trajeto para a escola eram todas enfeitadas com as borboletas batendo as suas asas pelos ares antes de pousarem nas flores coloridas que haviam nas matas que ladeavam as ruas de terra por onde a gente passava. E aqueles besourinhos verdes que as centenas ficavam apoiados na vegetação baixa e ao pegá-los, com suas patinhas faziam “coceguinhas” quando ficavam fechados na minha mão. Quase sempre que se entrava nas matas se voltava com a roupa “pintada de uns risquinhos pretos” que se chamavam de picão e que se soltavam de uma planta que tinha o mesmo nome e grudavam na roupa quando se esbarrava nela.
Na escola que era costume de alguns meninos (como meu também) comparecerem descalços, as meninas eram mais bem vestidinhas. Os cadernos delas eram mais enfeitados e entre as folhas deles elas colocavam o papel de embrulho colorido do chocolate “sonho de valsa”. Naqueles tempos já se gostava de algumas meninas, mas, elas nem sabiam (risos). A alegria da hora do recreio era saborear o sanduíche de pão com ovo frito, brincar e se descontrair até ouvir o som da campainha do momento do retorno às aulas. Naqueles tempos parecia que havia uma magia pelo ar difícil de explicar.
https://www.youtube.com/watch?v=ej_Cx4cZS6g&list=RDej_Cx4cZS6g&start_radio=1
Altino Olímpio
E os carrinhos da molecada, hein?
Hoje, aqui aonde vivo não mais se vê pelas ruas crianças brincando com carrinhos de quatro rodas. Parece que os que tiveram em moda, os chamados de “carrinho de rolimã sumiram. Lembrando, lá no Bairro da Fábrica de Caieiras e da Indústria Melhoramentos quando ainda não existiam os carrinhos de rolimã, como eram chamados, existiam os comuns de madeira de quatro rodas que no mais das vezes a molecada mesma os construía. O “volante” era de corda amarrada nos eixos perto das rodas do lado esquerdo e do lado direito, para poder direcionar o carrinho onde houvesse curvas na descida da rua.
Na rua quando era plana um garoto precisava empurrar o outro que estivesse sentado no carrinho que, então, era movido a suor. Quando se queria mais velocidade nele, no carrinho, era preciso pegá-lo no colo e levá-lo até ao alto do fim de uma subida e de lá, montado nele deixa-lo ao sabor da força da gravidade. E o carrinho “despencava” na descida para a alegria de quem o estava dirigindo.
Meu pai, Alberto Olímpio era bom para fazer as coisas e por isso pedi para ele fazer um carrinho para mim. Ele quando não estava no trabalho ficava no barracão lá de casa com biscates. Pequenas coisinhas que ele mesmo fazia para passar o tempo. Eu o vendo martelar alguma coisa vi que ele era canhoto e só se utilizava do braço esquerdo. Ele era da esquerda e eu não sabia. Entretanto, ele me prometeu fazer um carrinho e nos dias seguintes ele trouxe para casa quatro rodas de madeira já com rolimãs enfiadas nos buracos delas por onde iria se introduzir os eixos do carrinho.
Tais rodas caprichadas como eram, elas foram feitas por alguém na carpintaria da indústria local e eu nunca soube por quem e nem se foram autorizadas por alguém para fazê-las. E eu na minha paciência sempre perguntava ao meu pai quando é que ele iria fazer o meu tão esperado carrinho que iria ser o melhor do mundo. Sempre eu perguntava e meu pai se esquivava dizendo que logo o faria o carrinho, ou, iria construí-lo quando tivesse tempo. Parecia mesmo que ele era muito ocupado. Mas, e o meu carrinho? O tempo foi passando e passando e eu não via o meu carrinho pronto. E até agora que tenho mais de oitenta anos o carrinho ainda não ficou pronto. Não sei qual foi o fim daquelas rodas que me fariam rodar por aquele pequeno mundo onde eu vivi.
Altino Olímpio