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O vendedor de sandálias havaianas

Existem umas coisas interessantes de se lembrar.Hoje me lembrei que lá Vila Leão na década de 60 era muito comum o comércio de ambulantes. Tinha um que passava com assiduidade vendendo lingüiças, queijos,mortadelas.Outro vendia roupas de cama,tecidos.Outro ainda vendia pinos,borrachas de panela de pressão e mil tranqueiras de cozinha.Vinham com sacolas cheias e todos da vila sempre compravam.Primeiro porque morávamos distante de tudo.O armazém da Fábrica também não era tão perto e a facilidade de se comprar na porta era realmente tentadora.Mas teve um homem que naquela época ficou em minha memória.Sinto não lembrar seu nome e muito menos sua fisionomia.Ele, passava pelas vilas para trocar as “tiras” das sandálias havaianas.Aquelas famosas, que hoje  são até  baratas, eram caras para um tempo de dinheiro curto.Pois bem, acontece que as sandálias apesar de confortáveis tinham uma deficiência.Pelo uso ou pela má qualidade não sei, elas se partiam bem na junção que ficavam entre os dedos e aí aquela espécie de rolhinha que a prendia no solado acabava se soltando tornando impossível a continuação do uso. O triste da história era que sempre um pé permanecia intacto enquanto que o outro,partido se tornava inútil.Sorte era, quando outro pé de sandália bom existia num canto qualquer e coincidentemente era possível se formar novamente um par,mesmo que, de cores diferentes (isso era comum também).Bom voltando ao ambulante,esta interessante figura de vez em quando passava pelas ruas da Vila trocando as tiras das sandálias quebradas. Lembro que ele vinha com dezenas delas.Em muitas cores.Em diversos tamanhos.Elas vinham todas amarradas e ele as carregava sobre os ombros.Parava num ponto qualquer e os moradores à sua volta assistiam à grande proeza.Em instantes ele substituía a tira velha por uma nova.A rapidez e a habilidade dele eram dignas de aplausos.O mais interessante era que, a ferramenta utilizada na tarefa não passava de um simples arame dobrado com uma pequena alça na ponta.Aquilo era introduzido nos orifícios do chinelo como se fosse um passador de linha na agulha (usado por costureiras).Rapidamente ele prendia a peça nova, virava,torcia,puxava e pronto lá estava uma sandália novinha em folha.Hoje estas sandálias são tão baratas que ninguém faz questão em consertar.Elas são descartáveis como a maioria das coisas.Joga-se fora e compra-se nova.Mas em tempos passados,os produtos tinham uma vida útil bem grande.Nada era desprezado.Tudo era reaproveitado, consertado e utilizado por anos a fio.Os ambulantes  de porta em porta que perderam sua importância no mundo atual, naquela época foram  valorizados,prestigiados e esperados com ansiedade pelos moradores.Traziam em suas sacolas objetos de desejo,sonhos e fantasias.Traziam com suas visitas rotineiras o sabor da novidade que nem sempre estava ao alcance de todos.Eram figuras marcantes,visitantes celebrados e pessoas extremamente amigas,generosas e alegres.Que saudades e que gostoso poder recordar mais estes divertidos momentos passados lá na Vila Leão!
FATIMA CHIATI