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06/02/1987
Ed. 297 - "Águas amargas": região começa sua reconstrução

Uma calamidade pública. Nunca um termo foi tão apropriado a uma situação. Agora, escoadas as águas, removido o barro e calculado o prejuízo, a população de Caieiras e região se depara com um dilema: Virão outras? Com certeza outras enchentes castigarão as cidades e seus moradores. Durante toda a semana passada Caieiras, Franco da Rocha, Mairiporã e Francisco Morato ocuparam grande espaço e tempo nos órgãos de comunicação do país levando cenas de desespero dos flagelados lutando desenfreadamente contra a impiedade das águas. Até as lagartixas navegadoras foram filmadas sobre caixa de remédio. Pelo menos agora ninguém, principalmente os dirigentes estaduais, não podem alegar desconhecimento de causa. Tudo isso foi muito triste. Os prejuízos imensos, mas resta saber, antes que a situação seja restabelecida, o que será feito como medida curativa e profilática para que o nosso povo volte a ter um pouco de tranqüilidade. Que possam dormir sem o medo de se afogarem. No dia 29 de janeiro, uma quinta-feira ainda chuvosa, o governador André Franco Montoro - retirante do cargo - recebeu os prefeitos das cidades inundadas. Cafézinho vai, fotos voltam, Montoro deu uma ótima notícia aos alcaides das cidades em estado de Calamidade Pública.

A verba que o governo destinou às cidades foi, na verdade de Cz$100.000,00 e não Cz$100.000.000,00 como havia erroneamente anunciado anteriormente. Além dessa "maravilhosa" notícia, Montoro não forneceu soluções imediatas à catástrofe. Propôs a todos que se formassem uma comissão de estudos para que conjuntamente aos municípios chegasse a um total dos prejuízos municipais e definisse quais as medidas que seriam tomadas. Essa "solução" governamental quase causou um piripaque no Prefeito Cassiano de Francisco Morato que ali mesmo no Palácio dos Bandeirantes, fez um desabafo diante às câmeras de televisão. Segundo Cassiano, o que as cidades necessitavam era de auxílio imediato, ou seja, verba, pois estudos já haviam sido feitos para definir o problema e apontar soluções para as enchentes. Nesse ponto as cidades afetadas começavam, com muito custo e dentro de suas reais capacidades a reconstrução do que as águas derrubaram. Em Caieiras, embora menos destruída que as demais cidades, os prejuízos são de grande monta. O Jardim Esperança, onde se encontra o conjunto habitacional da Caixa Econômica Estadual, houvera inúmeros desabamentos de muros e vários barrancos desmoronavam felizmente sem colocar em risco as residências próximas. Outros bairros Caieirenses que, em breve, receberão pavimentação, foram completamente arrasados. O Jardim dos Eucaliptos, por exemplo, é um deles. Suas ruas foram completamente destruídas, dando lugar a buracos imensos, além de vários deslizamentos de terra que serviram para complicar a vida dos moradores daquele bairro. Um outro ponto muito afetado foi o trecho pavimentado da rua João Dártora sobre a ponte do Ribeirão Crisciúma que durante quatro dias esteve completamente submerso. O asfalto, naquele ponto, não existe mais e em seu lugar apareceu um buraco considerável que, provisoriamente, foi tapado pela prefeitura de Caieiras. Toda essa reconstrução em Caieiras, segundo o Prefeito Nelson Fiore, deverá ser morosa tendo-se em vista a grande quantidade de serviços a serem executados. Além da área de obras, a Prefeitura de Caieiras está cobrindo outros problemas surgidos com as enchentes: está prestando, através do Fundo Social de Solidariedade de Caieiras, total Assistência aos desabrigados. Para isso D. Mercedes Fiore - presidente do Fundo, promoveu uma verdadeira campanha de Solidariedade em todo o município e o resultado positivo de sua iniciativa pode ainda hoje - ser constatado no Fundo Social que se encontra abarrotado com as mais diversas doações. A ajuda, porém, não veio somente com a campanha. Várias entidades prestaram auxílio a nossos desabrigados, como por exemplo, várias firmas de Caieiras e região, a Defesa Civil do Palácio dos Bandeirantes que através do Major Evaldo, Capitão Eclair e a Secretária Rose, enviaram a Caieiras 3 toneladas de alimentos e cerca de 50 colchões. Outro importante auxílio veio por parte do Fundo Social de Solidariedade de Jundiaí que através de sua presidente - Neide Benassi - trouxe a Caieiras na última quarta-feira um caminhão repleto de gêneros alimentícios colchões e roupas. Realmente, colaboração com o próximo não faltou. Felizmente. Agora seguindo a determinação do governador, os técnicos da EMPLASA - Empresa Metropolitana de Planejamentos S/A - vinculada à Secretaria dos Negócios Metropolitanos - começa a desenvolver seus estudos a fim de indicar ao próximo Governador (Orestes Quércia) qual a solução para as enchentes. Aliás, estudo esse que já foi feito várias vezes nas cidades dessas bandas. Talvez com novos técnicos possa aparecer uma outra solução diferente das já propostas, que foram: desassoreamento da represa de Mairiporã e do Rio Juqueri e também a retificação parcial do mesmo. Pode ser que surja alguma idéia brilhante e mais prática: "Mudar todas as cidades inundadas para o Pico da Jaraguá. Lá ao que se sabe, nunca ocorreu um problema parecido. Com a força das águas rodou também um antigo projeto do Governo do Estado. Lembram-se do Projeto Juqueri? Como a Secretaria dos Negócios Metropolitanos conseguirá abrigar aproximadamente 300.000 pessoas em uma região que mal comporta os seus cerca de 250.000 habitantes?

Jornal A Semana