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Tristeza no Paraíso

No Bairro da Fábrica de Papel de Caieiras, naquele lugar pacato e de gente pacata também, por muito tempo os habitantes de lá para se transladarem para outros lugares dependiam da muito saudosa maquininha, aquele trenzinho pitoresco que os transportava até donde se situava a Estação Caieiras por onde trafegava os trens da antiga Estrada de Ferro Santos a Jundiaí (EFSJ) sendo hoje, Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Poucas pessoas possuíam veículos próprios como automóveis velhos e importados. Poucos também tinham suas motocicletas velhas e importadas (risos). Bicicletas uma minoria possuía, mas, apenas para a utilidade ou passeios pela localidade. Lambretas surgiram também.

Entretanto, o progresso não se esqueceu dos funcionários da Indústria Melhoramentos. Alguns deles ao adquirirem automóveis fizeram com que outros os imitassem. E a preferência foi pelos Volkswagen, automóveis que tinham a fama de “não dar problemas”. Muito ouvi falar sobre os de 1.200 cilindradas do ano de 1966 que eram muito bons. E foi tal o fazer pedidos para os dirigentes da indústria para se poder construir garagens para abrigar os carros. Alguns não precisaram pedir autorização, porque, tinham espaço para isso em suas casas sem precisar garagens.

Aos fins de semana, principalmente aos domingos, num páteo que servia de estacionamento do Clube Recreativo Melhoramentos se viam aqueles carros dos moradores daquele Bairro da Fábrica lá estacionados. Na parte da manhã sempre havia jogos de futebol do “time juvenil”, jogos de bocha, ping-pongue, o competitivo jogo de snooker e o bar aberto para aperitivos. Se me lembro foi num domingo que o Orlando Santana, mais conhecido como Kimbo esteve no clube com o seu filho caçula. Morador da Vila Leão, ele com o filho deixaram o clube para, talvez, irem almoçar em casa.

No retorno para casa, logo depois de passar pela Vila Ilha das Cobras e da curva chamada de Volta Fria, que, se dizia ser assombrada e que, tendo ao lado esquerdo o Rio Juquery e ao lado direito aquele enorme barranco muito alto forrado de vegetação e de árvores, próximo dali já numa reta havia na margem do rio o que chamavam de porto de areia. Sim, era de onde extraiam areia do fundo do rio. E foi nesse lugar que o automóvel despencou naquele rio com o Kimbo e o seu filho. Ambos morreram naquele dia. Aquele acidente fatal causou comoção geral naquele lugar que ainda nestes dias muitos que lá moraram dizem que lá era um paraíso.

Quanta tristeza! Ainda hoje quando me lembro desse fato me vem no pensamento à imagem daquela esposa que muito sofreu com a perda do marido e do filho num mesmo dia. O casal tinha três filhos, o Dirceu que era o filho mais velho, uma já mocinha cujo nome não me recordo e o filho caçula dessa tragédia aqui lembrada. Depois de passados muitos anos dessa tristeza irreparável outra tristeza abalou àquela senhora e sua filha, pois, o Dirceu também morreu de uma maneira trágica. O “destino” pode ser muito cruel para muitas pessoas como foi à fatalidade vivida pela esposa do Kimbo. Acredito que não existe consolo para as perdas que ela sofreu. Só o tempo é que pode amenizar o sofrimento, mas, as “cicatrizes” permanecem.

Altino Olimpio