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Existiu um paraíso II

Naqueles tempos despreocupados e sem contratempos havia tempo para observar a natureza. Nos dias de sol quente se ouvia os cantos das cigarras, se via os beija-flores sugando o néctar das flores e o colorido das borboletas no bater de suas azas. Viam-se os desenhos que as nuvens formavam no céu. Da beira do rio se via ele passar formando redemoinhos que provocavam pensamentos sublimes. Naqueles dias de ventos fortes, ao compasso deles se via as árvores se inclinarem como se estivessem dançando num baile promovido pela natureza, indiferente aos seres humanos que estavam distraídos em seus afazeres diários. Nas chuvas torrenciais suas águas se acumulavam em poças nas ruas de terra. No gramado que havia lá em casa, ele ficava branco quando a chuva era de granizo ou chuva de pedra de gelo. Quando a chuva terminava, no frescor que ficava o sol reaparecia e os pássaros voltavam a voar e a cantar exibindo suas liberdades.

Ninguém imaginava que logo iria existir a televisão. As mães tinham o rádio para ouvir. Elas gostavam das novelas irradiadas. Uma delas se chamava “O direito de nascer” e o personagem principal era o Dr. Albertinho Limonta. Às dezessete horas era a hora do bolero quando muito se ouvia o cantor Gregório Barrios. Ás dezoito horas era a hora da Ave Maria, Noutros programas se ouvia o cantor rei da voz, o Francisco Alves e outros considerados hoje como sendo da “velha guarda”. Às dezenove horas era a hora do Brasil. Existia também um programa chamado de “O crime não compensa” em que os crimes eram dramatizados. 

No aconchego do lar, no fogão a lenha que existia na cozinha dava bem para assar batata doce entre suas brasas. A fumaça que saia pela chaminé parecia indicar que era indissolúvel a constituição familiar.

As roupas simples dependuradas no varal pareciam bandeiras a se agitarem ao vento para se enxugarem. Eram lavadas com o esfregar dos chamados “sabão de pedra” que eram feitos de sebo. Era corriqueiro o costume das famílias de lá se visitarem ao sabor do café com os bolinhos doces ou salgados de trigo agora chamados de bolinho de chuva. Nos fins de ano, no Natal e no Ano Novo a fartura se resumia em carnes e em frangos assados, macarronada, inhoque e etc. Manjar branco com ameixas pretas em calda e pêssegos também em caldas e outros doces como queijadinhas de coco e pudins de laranja. Naqueles dias festivos era quando os noivos que ainda não eram da família eram convidados para participarem também. Colocando a memória para funcionar é fácil se lembrar daqueles tempos que nos foram tão felizes.

 

https://www.youtube.com/watch?v=xSpSIkUGehk

 

Altino Olimpio