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Caieiras de quando ainda era Cresciuma

E como era a Vila Cresciuma, hein? As ruas eram de terra, esburacadas e com muitas valetas. E quando chovia muito barro havia. O lugar era mesmo acidentado. Tinha mais subida do que descida e tinha um morro muito grande. Tinha também uma Vila das Cabras, mas não me lembro se também tinha uma vila dos bodes. Eu era morador de Caieiras que pertencia ao território da Indústria Melhoramentos de Papel. Sempre que eu ia pra Cresciuma onde só havia umas duas ou três lojas de comércio, numa delas eu ficava por mais tempo admirando a vitrine. Era a loja do Senhor Schirmanoff marido da Dona Afonsina e ele também era alfaiate. Eu ficava admirando uma boina preta que estava na vitrine. Numa das vezes que eu estive lá criei muita coragem e comprei aquela tão desejada ilusão. Ilusão porque quando a usei pela primeira vez... Ah depois eu conto!

As vitrines sempre foram uma atração para as pessoas, principalmente para as mulheres. Uma vez disfarçadamente eu ri por causa das tonteiras que me vinham na cabeça. Lembro-me que alguém havia me dito que, depois que a gente morre a gente nasce outra vez. Eu ri porque pensei que quando eu fosse nascer outra vez, gostaria de ser um manequim. Eles são bonitos, são bem vestidos e nunca ficam tristes, nunca mentem e não são de fazer fofocas e etc. (risos). Pensamentos hilariantes iguais a este me vinham com frequência e muitos deles jamais relatei para alguém. A vida pra mim era um sonho de alegria, do qual, eu não queria acordar. Mas, será que eu era invadido por algum espírito zombeteiro e não sabia?

A história da boina teve um final muito triste e revoltante. Estava usando-a pela primeira vez quando fui ao clube do Bairro da Fábrica (o CRM) e lá estando eu perto daquela torneira que estava sempre pingando que já “falei” sobre ela numa crônica anterior, a então muito conhecida do bairro Vilma de Freitas (saudosa) de mim se aproximou e disse: Você fica horrível com essa boina, tira ela. A Vilma era filha do Senhor Donato de Freitas, era irmã da Vera e irmã do Toninho de Pádua. Depois de tal observação amorosa da Vilma eu nunca mais usei aquela boina. Meu gato ficou feliz com ela porque dormia em cima dela.

Altino Olimpio