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23/05/2023
Capela de São José reformada por um povo forte!

Capela São Jose da Fábrica

Fiquei muito feliz com a notícia da restauração da Capela São José no bairro da Fábrica Melhoramentos. E para escrever esta crônica fui remexer no baú das minhas memórias, coisa que aliás adoro fazer, apesar de toda emoção e nostalgia que acabo experimentando.

Nasci na Vila Leão. Fui batizada e frequentei assiduamente a Capela pelos anos em que lá morei até final setembro de 1965.

Cresci ouvindo dos mais antigos que, em 1933, a inauguração havia sido um evento glorioso. As vilas se formavam, os trabalhadores da Melhoramentos se fixavam ao redor da fábrica e a Igreja desta forma, passou a ser não só um espaço de preces como também um espaço de encontro de toda uma comunidade que já fincava raízes aos quatro quantos daquele bairro operário.

Lembro da fachada da igreja, da escadaria de acesso, da mata circundando o local, do pórtico e do aconchego dentro daquela casa tão sagrada. Lembro do exuberante Cruzeiro... A Cruz enorme de madeira, adornada com pequenas lâmpadas, fixada no pátio externo e numa pedra fundamental que guardava registrado os nomes de tantos devotados moradores. Ali em muitos fins de tarde, ao escurecer eu fui passear com a minha mãe e minhas duas irmãs mais novas. Um passeio terno e doce, ao som de grilos e pássaros retornando aos seus ninhos.

Lembro da imagem de São José no centro do altar, das peças sacras nas laterais, dos vitrais, dos bancos de madeira limpos e brilhantes, das toalhas e acessórios da missa sempre brancos, engomados e bordados por mãos habilidosas de mulheres das vilas.

Lembro-me das missas aos domingos, às sete da manhã e do caminho percorrido a pé sobre cerração e frio. Lembro da volta, também a pé com o sol já esquentando, mas sacramentando os testemunhos da nossa crença em Deus. Cenas de indescritíveis belezas.

Com sete anos eu já fazia parte da “Cruzadinha”, uma congregação religiosa anterior à de “Filhas de Maria”. Usei uniforme com uma charmosa boina branca na cabeça e no pescoço uma estreita fita amarela com medalhinha prateada que, ao final de cada missa, era cuidadosamente dobrada e acomodada no meio do livrinho de catecismo. Objetos divinos e idolatrados por todos.

Assisti muitas missas na Capela São José, participei de festas, de procissões e lamento hoje não ter fotos minhas naquele lugar tão sublime onde nos reuníamos com tanta alegria e fervor.

Era bom acordar cedo aos domingos, usar a roupa especial separada exclusivamente para as missas. Era bom ir com a minha Madrinha àquele templo tão positivamente energizado. Era bom ver os adultos ajoelhados, o banco reservado às crianças, ouvir as preces que antecediam a celebração, a hora da comunhão tão enaltecida e, principalmente, era um deleite ouvir as vozes do coral que tão bem interpretavam aqueles cânticos eruditos.

Muitas vezes desobedecendo ordens eu virei minha cabeça para traz e para o alto, em direção ao Coro da Igreja que tanto me fascinava. E muitas vezes, clandestinamente, tentei subir pela escada extremamente apertada, para saber como era estar lá, avistando do alto a multidão que embaixo rezava. Sonhei cantar no coral infantil ao som daquele melodioso órgão antigo.

Só que antes que isso acontecesse, nos mudamos da Vila da Fábrica para o centro de Caieiras onde não se permitia coral com crianças.

Anos se passaram e eu nunca me esqueci da Capela São José e dos meus sonhos líricos. Lá vivi momentos extremamente valiosos, com a religiosidade sendo estimulada por hábitos tão saudáveis e singelos que agora me transportam a estas belas recordações da minha vida.

É passado? Sim, um passado que faço questão de chamar a todo instante, pois me remete a sentimentos genuínos e repletos de gratidão por tudo de grandioso que me proporcionaram.

E emocionada por ver tanta gente amiga trabalhando na reconstrução desta edificação antiga e primorosa, parabenizo a todos que se dedicaram ao restauro deste belíssimo patrimônio de Caieiras.

Abençoados sejam todos que reverenciaram este passado histórico da cidade! Abençoada seja a Capela São José! Para sempre em Caieiras e em meu coração.

Fatima Chiati


 


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