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Junho de 1981
Quase pronta nova fábrica da Melhoramentos mas só na terça Câmara de Caieiras decide área de zoneamento urbano

Onde se situa a zona urbana de Caieiras? Pelo menos duas respostas podem ser dadas a esta questão. No entanto, ela envolve um importante interesse do povo da região, particularmente da cidade: a nova fábrica que a Companhia Melhoramentos de São Paulo está construindo. Mas as disputas entre o Legislativo e o Executivo de Caieiras, na opinião do vereador Aparecido C. Campos, do PDS, adiaram para 3ª feira a solução desse conflito.

O zoneamento municipal de 1977, foi acompanhado por uma orientação contraditória baixada pela Secretaria dos Negócios Metropolitanos de São Paulo. Para acabar com esse conflito, a Melhoramentos pediu ao prefeito de4 Caieiras, Gino Dártora, que enviasse mensagem à Câmara propondo a adequação dos dois códigos de zoneamoento. Mas a maior parte dos vereadores da cidade julgou que a mensagem do prefeito era escusa. Dércio Pasin, do PMDB, repudiou as intenções do prefeito, afirmando que "Gino quer conservar a imagem de prefeito que combate a Melhoramentos. Por isso - continua Pasin -, na justificativa da mensagem não mencionou de forma alguma, que a mudança do perímetro viria a beneficiar a empresa. Consequentemente, nesse caso, Caieiras". Ele diz ainda, que bastaria ao prefeito mencionar no projeto as reais razões para a mudança do perímetro, que de pronto, teria sua aprovação. "Mas do jeito que foi feita a mensagem à Câmara - continua - aprovar seria assinar atestado de burrice".

"Na briga entre o executivo e o legislativo, quem perde é Caieiras".

O vereador Aparecido C. Campos, um dos que votou contra a mudança do período e que, depois de visitar a fábrica, mudou de posição, afirma que nesse jogo de teimosias, quem deverá sair perdendo é a cidade de Caieiras. "A mudança do perímetro foi proposta exclusivamente para possibilitar à Melhoramentos a construção da nova fábrica. Eu votei contrariamente mas reconsiderei meu voto, pois vi a fábrica de perto".

O fato da mensagem não citar a construção da fábrica como razão principal para a alteração do perímetro urbano, é para Aparecido resultado de "uma velha rixa entre o executivo e o legislativo". Acredita que o prefeito jamais mudaria uma linha no seu projeto: "é muito orgulhoso".

Mas não é por isso - conclui o vereador do PDS - que nós vamos deixar a cidade sair perdendo". Sobre a teimosia do prefeito, que segundo Dércio Pasin quer fazer os vereadores de "palhaço", fazendo-os engolir tudo o que quiser, como quiser, Aparecido diz não se importar: "Eu não sei quem é o mais teimoso, o prefeito, ou os vereadores que embora o projeto não diga, já sabem as razões da mudança do perímetro".

Carta da Acisc
Diante da carta que a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Caieiras (Acisc) enviou aos vereadores da cidade, esclarecendo o alcance da mensagem, os edis que se opunham a sua aprovação resolveram mudar de posição e, na próxima terça-feira, com certeza, o obstáculo do zoneamento urbano da cidade será removido e a fábrica da Melhoramentos terá sua permissão para funcionar.

De acordo com a lei de zoneamento da prefeitura em vigor desde 77, ela não poderia ter construído sua nova fábrica nas limitações da zona urbana.

Sua localização foi baseado num outro plano de zoneamento, elaborado pela Emplasa, um organismo da Secretaria de Negócios Metropolitanos, que data de 1978

Com a obra já quase no final, percebeu-se o conflito e procurou-se solucioná-lo. E, evidentemente, prevalecendo o plano mais global, do Estado. Foi por isso que a melhoramentos pediu providências da prefeitura.

Diante dessa polêmica, 1ª Mão resolveu elaborar uma ampla reportagem, mostrando à região o que pretende a companhia Melhoramentos com sua nova fábrica em Caieiras.
Desde que a companhia Melhoramentos de São Paulo começou a cultivar suas primeiras florestas, a região ganhou um aspecto de clima nórdico. Muitas de suas paisagens, suas montanhas, revestiram-se de grandes extensões de pinheiro, próprias da península da Escandinávia. Em maio ao frio glacial, a Escandinávia tem na madeira um de seus principais pilares econômicos. Por essa razão, detém o pioneirismo mundial na indústria do papel.

Mas Caieiras, há 20 km de São Paulo perdida entre as serras dos Cristais e da Cantareira, depois de reduzir no trópico as imagens de vegetação nórtica, poderá agora, com a implantação da novo fábrica da Companhia Melhoramentos, que produzirá a pasta termo-químico mecânica, transformar-se em vanguarda tecnológica internacional do processamento da madeira para a indústria de papel.

Nova fábrica: um investimento de Cr$600 milhões
O projeto da nova fábrica, que custará Cr$600 milhões, está para ser concluído até o fim de outubro. Representará praticamente a triplicação do volume de matéria prima produzidos pela Companhia em Caieiras, a duplicação de seu faturamento, hoje em Cr$200 milhões mensais, e 140 novos empregos diretos e indiretos na região. As informações são de seu gerente administrativo, Paulo Roberto Gagliardi e do engenheiro Mário Bibiano de freitas Júnior, gerente de Produção da Companhia, que explicaram ao 1ª Mão o que é o projeto da Nova Fábrica da Melhoramentos.

A companhia Melhoramentos de São Paulo, produz hoje, em Caieiras, papéis sanitários absorvente, guardanapos e papel higiênico. Além disso fabricada em parte no seu próprio parque industrial. Ela produz diariamente 60t de celulose. Outras mil toneladas mensais são compradas de 30 outras fábricas pequenas do sul do País.
Essa é um das razões que levam a Companhia a investir numa nova fábrica de matéria  prima, que sozinha significará a produção de 150t diárias de pasta termo-mecânica. Produzindo as duas matérias primas em Caieiras, a Companhia terá em mao a possibilidade de, na composição do produto final, o papel, criar importantes alternativas de produção. Conquistar, assim novos mercados.

A economia de óleo combustível meta prioritária da política econômica nacional, é outra grande justificativa do investimento. A nova fábrica além de permitir o reaproveitamento do vapor do refinador trabalha apenas com eletricidade. Dá assim novo passo no seu projeto de redução do consumo de óleo: em fins de 80 inaugurou uma caldeira à lenha que permitiu a redução de 50 por cento do consumo.

Entre as vantagens apresentadas pela Companhia à cidade, seus diretores citam a criação de outros 70 empregos diretos e uma outra quantia de empregos indiretos. Essas 40 novas oportunidades de trabalho se somarão aos 1.000 outros empregos que a Melhoramentos oferece hoje a Caieiras.
E não apenas empregos de baixo padrão. Dentro do projeto da nova fábrica a empresa já levou para a Europa nove cidadãos que residem na cidade. Eles fazem parte do corpo técnico que fará a nova fábrica funcionar.

Outras medida dos benefícios que a fábrica trará à cidade é o recolhimento de ICM. Mensalmente a Melhoramentos recolhe Cr$16 a 18 milhões aos cofres públicos, correspondentes aos Cr$200 milhões que fatura. Com a nova fábrica a Companhia espera aumentar seu faturamento para cifras em volta de Cr$350 a 400 milhões mesais.

A viabilidade do projeto
O desenvolvimento da industria de papel da Península Escandinava  fez com que a região fosse coberta por culturas de espécies destinadas a matéria prima. Ainda assim aqueles países foram forçados a importar madeira de União Soviética para abastecer suas máquinas. E o preço, logicamente, subiu.

Foi então que os suecos descobriram a pasta térmica-química, que é uma matéria prima com a quantidade da celulose e com o rendimento da pasta mecânica.
Os suecos tem uma madeira de fibra longa, parecida com os nossos ciprestes, o "Spruce".

Em 1979, a Melhoramentos mandou para a Suécia uma tonelada de pinheiros (conninghâmia) para testar em laboratório a viabilidade técnica de trazer a tecnologia para o Brasil. No fim do ano já sabia o resultado positivo da experiência.

A viabilidade econômica foi, em seguida, também aprovada, O know-how foi adquirido de uma empresa sueca, a Defribafor, que é a primeira companhia do mundo nesse processo.
Em outubro de 80 as obras já estavam em andamento. Elas compreenderam a construção de um prédio que até o final de junho terá sua parte de obra civil concluída a um custo de Cr$50 milhões. Em seguida setembro a parte de montagem mecânica termina. A elétrica e eletrônica, estará pronta no começo de outro, e a obra será inaugurada.

Parte integrante do projeto foi a construção da sub estação de força na área, inaugurada dia 10 de maio. Os motores da nova fábrica são de alta voltagem, exigindo esse investimento, em torno de Cr$75 milhões. Mas a sub estação representará economia para a Melhoramentos. Embora ela esteja prevendo um consumo dobrado de energia elétrica, pagará taxas mais em conta a medida que receberá em alta tensão.

A produção da pasta termo-mecânica obedece a um processo que começa pela lavagem dos cavacos de madeira. Num segundo momento - da impregnação - esses cavacos são submetidos a aditivos químicos. Depois disso são conduzidos ao pré-aquecedor, que é uma espécie de panela de pressão. Por fim seguem para o refinador, que é "o coração da fábrica". Construído em aço especial, representa 10 por cento dos custos do projeto, e foi o único componente importado. É no refinador que pasta é alvejada.

O refinador é também um gerador de vapor. Seu movimento rotatório aquece o material a uma temperatura que gera vapor, por sua vez usado na fase do pré-aquecimento.

Com o processo consegue-se um aproveitamento de 95 por cento da madeira consumida. Ele não gera poluição, já que o circuito de água da fábrica. Os produtos químicos utilizados, a soda cástica, o sulfito e a água oxigenada são responsáveis pelo embebimento e branqueamento da massa.

90 anos de história
A companhia Melhoramentos de São Paulo - Indústrias de Papel, foi fundada em 12 de setembro de 1890, pelo Cel. Antonio Prost Rodavalho. Pioneira na Indústria de papel nacional, sua primeira fábrica em São Paulo foi em Caieiras.

Em 1921 a empresa uniu-se à Weiszflog Irmãos, editora e indústria gráfica, uma firma de São Paulo. Sob a direção de Alfredo Weiszflog a nova empresa sob o lema de "Do Pinheiro ao livro, uma Realização Melhoramentos", não parou de crescer. Vastas plantações de  pinheiros, fábrica de celulose e pasta de madeira, ampliação das oficinas gráficas, caracterizaram a nova fase.

Hoje, seu parque industrial está concentrado em São Paulo. Suas reservas florestais (pinheiros e eucalíptos) estão espalhados entre as cidades de Caieiras, Bragança Paulista (SP) e Camanducaia (MG). Ela tem hoje 12 mil ha cultivados, dos quais três mil com eucalíptos.

Além de papéis sanitários, ela produz cadernos, ramo em que é pioneira na introdução de cadernos sofisticados.                       

Caieiras será pioneira em matéria prima do papel
Há três tipos de matéria prima para a produção do papel. A pasta mecânica (madeira ralada, sem qualquer tratamento químico) e a celulose são as duas formas usuais em que ela se apresenta. A CTMP (Chemical Termo Machanical Pulping) é uma terceira forma que reúne o rendimento do primeiro processo à qualidade do segundo, resultando num terceiro método de conseguir matéria prima, a pasta termo-química mecânica, tecnologicamente mais desenvolvido.

A nova fábrica que a Companhia Melhoramentos está construindo em Caieiras é baseada nessa tecnologia. Por essa razão Caieiras será a pioneira na América do sul. Mas, a adaptação promovida pela Melhoramentos sobre esse processo fez com que a cidade se transformasse na pioneira mundial no uso da CTMP em papéis sanitários.

Foi a Melhoramentos que no início deste século desenvolveu no País a fabricação da matéria prima do papel na base de fibra curta, obtida do eucalípto. A fibra curta pode ser produzida na metade do tempo, tornando sua cultura altamente econômica.

Os processos de obtenção da matéria prima do papel tem, cada um, suas vantagens e desvantagens. A pasta mecânica apresenta um rendimento de 90 a 95 por cento da madeira, mas, em comparação à celulose, tem metade de sua qualidade.

A obtenção de celulose é conseguida por um tratamento químico, que separa a liga (lignina) que une as fibras da madeira.

A obtenção da celulose é conseguida por um tratamento químico. Ele separa a lignina das fibras da madeira. A lignina é uma liga que une as fibras. O produto químico dissolve a lignina e é queimado em caldeiras, apresentando um aproveitamento de apenas 50 por cento da madeira.
CTMP

Na nova tecnologia, da CTMP, de origem sueca, não se remove a lignina de forma a conseguir dar à fibra mais maciez que na pasta mecânica e, portanto, mais qualidade. Inicialmente, na Europa e América do Norte, o CTMP foi usado apenas na confecção de jornais. Hoje representa já 100 por cento da sua matéria prima.


Jornal A Semana