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08/07/1990
Ed. 450 - “Cala a boca, vice-prefeito”

Como entender uma denúncia vazia de conteúdo, mentirosa, feita por um político profissional, escondido por trás do instituto da imunidade parlamentar? Por que um jornal se prestaria a divulgar uma denúncia mentirosa, feita à base de talvez e senões, sem qualquer prova fatual ou mesmo circunstancial?

O que pode parecer de difícil entendimento, na verdade é uma historia simples, onde se percebe um complô envolvendo prefeito, vereadores, imprensa marrom e interesses econômicos, espúrios dispostos a fechar a boca única voz contraria que tem encontrado ressonância na luta contra os desmandos da administração Milton Neves: a do vice-prefeito Edson Navarro.
Ao lado de Milton Neves na campanha que o levou à prefeitura, Navarro assumiu a Diretoria Financeira da Prefeitura caieirense e procurou imprimir à administração um caráter dinâmico e honesto, marcado pela austeridade e pela transparência das decisões. Procurou salvaguardar a imagem do prefeito, defendendo-o de ataques como o que desferiu o vereador Sergio Menegatti, ainda no início da gestão, que procurava achincalhar a figura do prefeito, chamando-o de jogador, traidor e vagabundo (sic).

Passado algum tempo, observando que a administração se desviava irremediavelmente dos rumos anteriormente traçados Navarro procurou convencer Milton Neves a retornar aos compromissos de campanha. Não tendo êxito, deixou, sem alarde a Diretoria Financeira e a Prefeitura.

 

180 graus

A saída de Navarro marcou uma guinada nos rumos da administração Milton Neves. A princípio silencioso Edson Navarro resolveu levar sua discordância a público, combatendo o que considerava desmandos e traição do prefeito que o elegeu.

Através da imprensa, Navarro passou a divulgar uma série de denúncias. Milton, os vereadores Doca e Aparecido são personagens constantes nessas histórias onde permeiam o interesse pessoal e o descaso em relação ao bem comum.

Procurando embasar suas desconfianças, o vice-prefeito requer uma série enorme de certidões junto à Prefeitura – sinal de falta de transparência na Administração – o que desagrada profundamente ao prefeito Neves.

Para culminar, a denúncia do caso SAM X Prefeitura de Francisco Morato ganhou páginas e mais páginas dos jornais locais e da própria Folha de São Paulo. O escândalo mostrava, de maneira cabal, a participação de diversas personalidades da região numa operação em que saíram lesados o INAMPS e a Prefeitura de Francisco Morato, enfim, o cidadão contribuinte. Entre os envolvidos, a figura Milton Ferreira Neves, sócio proprietário do SAM envolvido diretamente.

 

Contra-ataque

Foi a gota d’água. Uma vez foi feita a denúncia, armou-se o complô que fez invadirem, sob inspiração do Prefeito, a casa de Edson Navarro, sob pretexto de apuração de irregularidades. Ao mesmo tempo a Prefeitura solicitava a planta de sua fabrica, sob o mesmo argumento.

Na Câmara o vereador Aparecido, sobre quem pesam as denúncias, várias entre as quais e de lesado a Prefeitura de Caieiras numa troca de terrenos, a de ter usado seu cargo em benefício de parentes e da nebulosidade das contas da Câmara no período em que foi presidente, levantou a falsa denúncia, escondido pela imunidade parlamentar.

Imediatamente, um jornal, cujo proprietário tem seu nome figurando na folha de pagamento inúmeros órgãos públicos em Caieiras e Francisco Morato há vários anos, e cujos maiores valores em notas fiscais foram emitidas sempre, contra a Prefeitura de Caieiras, Câmara de Caieiras e Prefeitura de Francisco Morato, dá vazão à denúncia.

Está fechado o círculo. E a orquestração pretende apenas um intuito: intimidar a calar a única voz que denuncia seus interesses.

Tempo perdido

“Perdem seu tempo”, adverte Navarro, contudo. Segundo ele, é evidente que irá defender-se das acusações, mas desde já avisa que, se o que pretendem é intimidá-lo, perdem seu tempo: “Vou continuar alerta, fiscalizando e denunciando eventuais falcatruas. E não adiantam ameaças ou calúnias”.

E aí, uma curiosa associação pode ser lembrada, a de quando grupos incomodados com a atuação do jornalista Antonio Maria, tentando fazê-lo calar, seqüestraram-no e lhes quebraram os dedos das mãos. No dia seguinte, sua coluna diária num jornal carioca abria com a seguinte expressão: “Idiotas, eles acham que um jornalista escreve com as mãos”.

Jornal A Semana