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28/05/1982
Ed. 64 - Agora, fala-se de estelionato

Se Raul Seixas soubesse tudo o que lhe aconteceria depois do malfadado show do dia 15 em Caieiras, certamente não teria aceitado o convite de Francisco Leílson - o Léo - para fazer um show em Caieiras na feira do folclore.

Na última quarta-feira, o cantor convocou a imprensa e revelou que, além de ter sido vítima de maus tratos por parte do público e da polícia por ocasião do show, ainda foi vítima de um cheque "frio", de uma conta já encerrada - em nome de João de Souza Câmera - no valor de 500 mil cruzeiros, que foi dado por ele por Leílson, como parte do pagamento pelo show.

Com esse fato novo, o do cheque, a história tomou proporções bastante diversas daquelas de que se imaginava antes. Para o advogado de Raul Seixas, Arnaldo Ferreira Bastos Filho, a revolta do público no dia 15 e a desconfiança sobre a verdadeira identidade de Raul estão agora esclarecidas. Em sua opinião, o público foi de certa forma incitado por Francisco Leílson, coordenador da Feira do Folclore, junto com o ex-prefeito Gino Dártora.

"Esqueçamos o delegado. Por enquanto".
O advogado Arnaldo Ferreira revela ainda que, por enquanto, não tomará nenhuma medida contra o delegado de Caieiras, que teria submetido o cantor Raul a uma situação no mínimo constrangedora e inusitada. Segundo ele, apenas quando estiver em suas mãos o Boletim de Ocorrência e outros documentos, ele deverá pensar nas providências que poderão ser tomadas.

Por enquanto, no entanto, o advogado está entrando com uma ação de indenização de perdas e danos contra a prefeitura de Caieiras, contra Gino Dártora, contra Francisco Leílson e contra o emitente do cheque, João Câmera. Ainda será movida uma ação, na esfera penal, para apurar as responsabilidades penais dos envolvidos diretamente ou não no caso de estelionato.

"O clima de animosidade criado justificaria o cheque sem fundos recebido"
O contrato feito por Francisco Leílson com o empresário do cantor para essa apresentação, estipulava um cachê de 700 mil cruzeiros. Antes, porém, de entrar no palco, o empresário já havia conseguido receber, não antes de muita discussão 100 mil cruzeiros. Durante esse tempo, porém, espalhava-se o boato de que quem subiria ao palco seria um impostor, pois o cantor "verdadeiro" estaria fazendo um show, naquele mesmo horário, em Araraquara. O empresário conseguiu receber ainda o tal cheque - frio - de 500 mil cruzeiros.

Com a disseminação do boato da presença do "falso Raul Seixas", o público dirigiu toda a sua revolta contra o cantor, e o teria linchado, não fosse a providencial presença da polícia.

Na delegacia, com Léo ainda dizendo que aquele não era o cantor, o cheque foi tomado das mãos do empresário de Raul, até que a verdadeira identidade do cantor, ali presente, fosse esclarecida. Na opinião do advogado de Raul, todo esse clima de animosidade entre público e cantor teria sido propositadamente criado para justificar o não pagamento, por parte de Leílson, do cheque de 500 mil cruzeiros.

Raul Seixas, querendo ou não, complicando a vida do PDS Caieirense.

Ao que parece, o caso Raul Seixas terá ainda conseqüências imensuráveis a primeira vista. Desde a violência sofrida pelo cantor do delegado até o notório envolvimento do ex-prefeito Gino e de seu preposto Léo em caso de estelionato, como quer caracterizar o advogado do cantor, a situação do PDS caieirense, em pleno ano eleitoral, parece cada dia mais complicada.
Em outras palavras, o profético compositor Raul, que nasceu "Há dez mil anos atrás", é "astrólogo", e "conhece a história do princípio ao fim", aparece hoje, apocalipticamente, ao que parece, como o anjo exterminador das pretensões eleitorais do partido do governo em Caieiras.

Jornal A Semana