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12/07/1985
Ed. 220 - Duas versões de um triste episódio

Há quem conte assim...

No último dia 25 de julho, na Câmara Municipal de Caieiras, realizou-se a última sessão antes do recesso do mês de julho. Entre outras matérias e projetos deveria ser votado o que se referia ao aumento do funcionalismo público, que, por decreto do Sr. Prefeito Nelson Fiore deveria ser de 90%, 10% acima do INPC.

Neste dia aquela Casa de Leis encontrava-se lotada, na maioria funcionários públicos que desejavam acompanhar a votação de um projeto que lhes interessava diretamente. Iniciada a sessão o presidente daquela Casa solicitou imediatamente à Polícia Militar que fornecesse policiamento ao recinto, talvez, concluindo que o clima da sessão era de uma verdadeira praça de guerra.

Alguns vereadores, no decorrer da sessão, preocuparam-se com divagações totalmente descabidas com o intuito, somente, de retardar os trabalhos e confundir os presentes.

Estes vereadores, Antonio Romero Pollon, Névio Luiz A. Dártora, Afdóquia Chaib Ferreira Neves, José Lira Guedes, Aparecido Correa de Campos e o presidente daquela augusta Casa, Milton Valbuza, com tal procedimento, demonstraram a total falta de consideração com os cidadãos que os elegeram. Em conseqüência desta mirabolante técnica utilizada, o projeto que era o principal daquela sessão, acabou não entrando em votação, sendo sumariamente rejeitado nas comissões. O presidente Milton Valbuza, após a sessão prometeu aos funcionários que até o dia 30 de julho o problema seria resolvido, disse também que uma sessão extraordinária seria convocada para sexta-feira, dia 28 de junho.

A sessão que deveria ser realizada no dia 28 de junho aconteceu realmente no dia 08, onde ficou demonstrado claramente aos olhos dos presentes e de toda a população caieirense que, determinados sete vereadores não possuem um comportamento sério.

Na sessão do dia 08, marcada para as 9:00 h, houve a presença de inúmeros funcionários que queriam mais uma vez acompanhar a votação do referido projeto. Milton Valbuza iniciou a sessão com atraso de 35 minutos e, logo anunciou aos presentes que o aumento seria prontamente aprovado. A ovação foi geral. Ato continuo pediu ao 1º secretário que efetuasse a leitura do parecer da comissão de finanças sobre o projeto que visava o aumento de 90% e a suplementação de verbas a serem utilizadas em obras públicas. Discordante com a afirmação do presidente Valbuza, encontrava-se o parecer da comissão que através de palavras muito bem disfarçadas concluía que o aumento estava mais uma vez, sendo rejeitado. A vereadora Vanda Matiazzo, defendendo o interesse dos funcionários, informou a todos que aquele parecer era contrário às aspirações do funcionalismo e que estavam sendo, literalmente, enganados. Milton Valbuza disse a todos que existia um outro projeto de sua autoria e de mais alguns vereadores que concederia um aumento de 120%. Novamente Vanda Matiazzo acompanhada dos vereadores Pedro Sergio, Edson Martins e Assis Crema, informou aos presentes que o projeto de autoria daqueles vereadores era improcedente, pois a Câmara Municipal através de seus vereadores não pode legislar em questões financeiras.

Valbuza, vendo que a artimanha que estava sendo utilizada fora descoberta, suspendeu a sessão. A confusão começava a ser formada. O vereador Pedro Sergio pedia ao presidente da Câmara que desse a palavra ao representante dos funcionários da prefeitura para que ele expusesse a posição do funcionalismo público e qual decisão que a eles seria melhor. Valbuza recusou-se. Neste momento a maioria dos vereadores se encontrava em pé no plenário. Pedro Sergio encontrava-se no centro, Macedo à direita, Aparecido à esquerda. O vereador Macedo saiu de sua posição e dirigiu-se até o professor Pedro, tentando talvez, utilizar o microfone de “aparte” naquele momento foi empurrado por Aparecido que se encontrava visivelmente irritado. Levando em consideração a idade, o porte físico em relação ao seu agressor (Aparecido) Pedro Sergio saiu em defesa de Macedo e foi “peitado” por Aparecido que estava totalmente fora de si. Em legítima defesa Pedro Sergio empurrou seu agressor que, distraidamente, não viu que estava a poucos passos da cerca que separa o plenário da platéia. A lei da gravidade mais uma vez agiu e Aparecido caiu de costas na platéia. Diante da cena dantesca, os funcionários presentes se revoltaram e tentaram invadir o plenário que se encontrava uma verdadeira balbúrdia onde sobressaiam-se os socos, tapas e ponta pés. Aparecido, indignado com sua queda esbravejava impropérios aos presentes e tentava agredir, de qualquer forma, o vereador Pedro Sergio. Empolgado com tanta ação Névio Dártora entrou na briga, porém sem muita sorte. Na platéia a situação era preocupante, Dona Josefa, funcionária da Prefeitura, desmaiou ao constatar que Aparecido com revólver fazia gestos que levavam a conclusão de que realmente ele iria sacar.

Os vereadores deixaram o plenário e se dirigiram à parte posterior da casa. Lá dentro, separados por uma porta os vereadores continuaram brigando. Aparecido pegou o vereador Pedro Sergio em uma “gravata” e a briga prosseguiu. Na porta que separa as duas dependências, Antonio de Christo Alarcon e Sidnei de Moraes (funcionários da Prefeitura) acalmavam e impediam o acesso dos presentes ao local onde os vereadores se degladiavam. A confusão estava chegando ao fim. José Lira Guedes que prontamente fugiu da confusão, pedia que os espectadores fossem retirados do recinto. Alguns funcionários chamaram a polícia no intuito de que a briga armada pelos vereadores fosse terminada. Ao ver a chegada dos policiais, o vereador Aparecido informou-lhes que o seu agressor havia sido José M. Santos, o “Sinhozinho” que, ironicamente, possui quase que a metade de sua altura e de seu peso. Na saída dos fundos da Câmara, José Lira Guedes, dizia em altos brados que o aumento por eles idealizado era muito melhor que o do prefeito e a indignação dos funcionários aumentava, pois como já haviam dito várias vezes anteriormente, queriam 90% imediatos e não 120% demagógicos e sabiam que estavam querendo novamente enganar-lhes.

“Agitadores! Vocês são uns agitadores!” – Com estas afirmações Lira se dirigia a alguns funcionários, como se a presença deles fosse descabida de fundamentos e como se os mesmos não estivessem interessados em seus aumentos e não soubessem que os 120% legislados pela Câmara eram completamente inconstitucionais.

Aos poucos a confusão foi se dissipando e o espetáculo sofreu uma mudança de cenário. Não mais a Câmara, agora era a Delegacia. O delegado Jairo Ferreira ouviu depoimento dos presentes, lavrou Boletim de Ocorrência e possivelmente será instaurado inquérito.

Caieiras, mais uma vez, mostrou que por causa de alguns de seus filhos, Oxalá fossem espúrios, voltou a ser palco de cenas completamente ultrapassadas que poderiam não ser apresentadas se algumas pessoas tivessem um pouco de senso do ridículo e mais espírito comunitário.

ASS. IMPRENSA PREF. DE CAIEIRAS.

...Outros assim.

Devido aos comentários que circulam pela nossa cidade e região – envolvendo o nome desta Câmara e dos vereadores – sobre os acontecimentos havidos durante a realização de sessão extraordinária no dia de ontem (08/07/85), temos a informar a todos o seguinte:


1º) Antes do início da sessão estavam presentes na Câmara aproximadamente 250 (duzentos e cinqüenta) funcionários da Prefeitura e URCASA que trabalham nos serviços externos – coleta de lixo, limpeza, cemitérios e jardins, manutenção e obras – além dos funcionários internos, da Secretaria e demais seções da Prefeitura, todos com o cartão de ponto marcado na Prefeitura, e que vieram para a Câmara a mando de seus chefes para pressionarem os senhores vereadores para a aprovação de dois projetos de lei que suplementavam verbas do Orçamento da Prefeitura.
2º) Com a rejeição do primeiro projeto, que dava ao senhor Prefeito quase 5 (cinco) bilhões de cruzeiros, a vereadora Vanda Matiazzo pediu a palavra e começou a instigar os funcionários presentes na sessão, dizendo que os vereadores haviam rejeitado o aumento deles e que o projeto que os vereadores iriam propor “era inconstitucional e que aquilo era demagogia, como estava escrito na faixa que alguns funcionários portavam dentro das dependências da Câmara”.
3º) Ato contínuo, o vereador Aparecido também solicitou a palavra para contradizer a vereadora Vanda, quando foi interpelado fisicamente pelo vereador Pedro Sergio (Pedrão) que começou a agredi-lo com socos e tapas, tendo o vereador Pedro Sergio derrubado o vereador Aparecido do lado dos funcionários da Prefeitura, que também o agrediram com pontapés e socos, pois o mesmo encontrava-se caído e com a perna presa nas grades que dividem o Plenário da Assistência, sem poder defender-se.
4º) Em seguida, o vereador Milton Valbuza, presidente da Câmara, vendo a situação em que se encontrava o vereador Aparecido, saiu em seu socorro e quando o estava ajudando a levantar-se, foi agredido com um cinzeiro de madeira, de aproximadamente 30 cm2 atirado pelo funcionário Luiz de Tal, vulgo “Sinhozinho”, que o atingiu na face, tendo sofrido lesões cortantes no nariz, supercílios e no couro cabeludo. Nesse mesmo instante, o vereador Névio também havia saído em socorro do vereador Aparecido e foi agredido com socos e pontapés pelo vereador Pedro Sergio, que arrancou os óculos do vereador Névio com um tapa, quebrando-os.
5º) Durante esses acontecimentos, o funcionário da Prefeitura “Adolfo Soares”, não medindo as conseqüências de seus atos, arremessou em direção do vereador Milton Valbuza um cinzeiro de vidro, retirado da mesa dos vereadores, não conseguindo atingí-lo, provocando uma avaria na mesa ocupada pelo vereador José Lira, primeiro Secretário da Câmara.
6º) Com a confusão formada, instigada pelos funcionários da Prefeitura, saíram com ferimentos leves os vereadores: Milton Valbuza, Névio Dártora, Assis e Pedro Sergio que após a chegada dos policiais da PM, foram encaminhados à Delegacia de Polícia para confecção de Boletim de Ocorrência e também foram encaminhados ao Instituto Médico Legal para exame de corpo de delito.
7º) No final das contas, além dos vereadores feridos, também recebeu ferimentos leves a funcionária da Câmara Maria Nair, além dos danos materiais, calculados aproximadamente em 2 (dois) milhões de cruzeiros (estragos de microfones e móveis, entre outras coisas).
Entendemos que atos de selvageria como esses não são admissíveis na atual situação de Nova República por que passamos, e cremos que os mandantes e instigadores dos pobres funcionários da prefeitura e URCASA, não mediram as conseqüências de seu ato, pois essas mesmas pessoas informaram mentirosamente aos funcionários da Prefeitura que o aumento de salários destes dependia da aprovação desses dois projetos, sendo que o aumento já havia sido concedido a eles através do Decreto nº 2.480, de 26 de junho de 1985 que já está afixado no quadro de avisos da Prefeitura desde essa data.
Resta-nos agora aguardar o andamento do competente inquérito policial instaurado na delegacia local e a punição dos verdadeiros culpados que são poucos por usarem como massa de manobra os pobres funcionários da prefeitura.

MILTON VALBUZA SILVEIRA
PRESIDENTE


Jornal A Semana