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Caieiras Vesgavisão apresenta

Parte I

Dimas Parizotto! Você pediu! Obrigado pela idéia e colaboração!

Tantas são as histórias que absorveriam muito espaço e o patrão “colorido” em março, bronqueia muito.

Se nesta abusei, ele não pode reclamar porque me inspirei também em algumas de suas idéias.

       Acomode-se na primeira fila do auditório impaciente, pois já vamos descerrar as cortinas! Vê se você gosta!

Parte II

Para quem se lembra, a rede Globo de TV, gravou seu programa de domingo, Fantástico, o show da vida, um trecho com o Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, pai e filho, na estação de trem de Caieiras.

Inconscientes, nunca souberam realmente o que gravaram.

O destino quis! Uniu dois reis! Um do baião e outro do desprendimento. Trouxe aquele bode velho de Asa Branca, homem livre com laços fraternais de além fronteiras, que muito aprendeu, foi um bom companheiro e grande mestre da vida para homenagear nosso rei.

No momento da gravação, o destino foi buscar um personagem pitoresco do local, e trouxe-o pedalando sua inseparável bicicleta.

Também, enquanto pai e filho cantavam, desviou a câmara direcionada neles, focalizou-a no personagem, gravou sua imagem, e num domingo, mostrou para milhões de brasileiros.

.... ....

O “pitoresco” vivia rodeado de crianças! Teve muitas bicicletas e com felicidade sempre as emprestava, de preferência para as meninas.

Ao vê-lo, surgia na mente, imagens de ferramentas espalhadas, estopa, parafusos jogados pelo chão e tudo mais, pertinente ao que ele transmitia.

O personagem pitoresco, o rei do desprendimento nunca usou coroa!

Usou ou ainda usa, o que muito o caracterizou! Um bonezinho encardido e ensebado.

Bonezinho ensebado! Agora vocês já sabem quem é!

Claro que é o Maquináia, gente nossa e famosa! Sereno e tranqüilo, parece que nunca se altera. O Maquináia é uma goteira que não perturba. Até enche o saco!

Habituados com tanta violência, filmes do Rambo e etc., parece que nos agradaria vê-lo atirar uma pedra nos vitrais da igreja, dar pontapé num cachorro faminto e abandonado, cuspir num mendigo desprotegido, mas não! Ele permanece como um relógio.

Faça sol ou chuva com trovões, ele continua no seu tic-tac.

Eu devo ter parentes pelas redondezas que ainda não conheço, por isso exaltado, adotei-o como tal.

Os representantes do povo se envolveram em acalorada discussão, para aprovar a posteridade, a lei que o lembrar sempre, denominando uma rua com seu nome. Estavam divididos por que alguns preferiam usar apelido ao invés de nome próprio.

O Calónico, presente por acaso, perdeu a paciência, interrompeu, gritou e falou:

— PAREM! VOCÊS NÃO SABEM NADA! PODE POR APELIDO EM NOME DE RUA, SIM!

— Já tivemos máquina ficha; cortamos calipe no calipiá; andamos de para-gata; nadamos em tancão e até em ponte seca. Já moramos na curva e no barreiro; passamos com a maquininha no corte grande; já joguei vinte e um no cabelo branco e no morro do espia fogo; já comemos palmito do tico-tico e fazemos papel na cerâmica!

—    VÁ! QUAL É O POBREMA?

Com tudo isso, os surpresos representantes se acalmaram, resolveram a questão com a solução que agradou a todos.

Infelizmente a lei sancionada só será colocada em prática quando o Maquináia for requisitado desta vida para emprestar suas bicicletas para as anjinhas lá no céu.

—    Bem! Chegou o momento esperado!

—    Que entre o nosso homenageado!

(Explodiram os aplausos. É preciso uma pausa enquanto perduram).

—    Minha gente! Silêncio por favor!

—    Vejam e gravem! Esta cena é insólita!

—    Ele está trajado de smoking! Agradecemos a consideração.

Informo a todos que o bonezinho ensebado pertencerá ao acervo do futuro museu de Caieiras.

—    Maquináia, é tua esta bicicleta nova e dourada!

—    É presente de nosso povo!

Estas crianças lhe entregarão outro, e nós esperaremos enquanto você desembrulha.

— Olhem! É a foto pintada num quadro ricamente moldurado, naquela que ele mais gostou e tristemente não mais se encontra entre nós.

.... ....

— Presente no auditório convidamos Sua Excelência, o governador do Estado, para fazer-lhe a entrega do diploma de Cidadão Caieirense.

— Nosso prefeito entregará uma cópia autenticada da lei que sancionou o nome da rua, que se chamará Rua Maquináia Orlando Lopes.

— Pessoal, esperávamos algumas palavras do homenageado, mas ele, o Maquináia, não vai conseguir falar.

—    Está fitando aquela foto e chorando muito!

—    Temos que abreviar o encerramento!

—    Vou corrigir um engano do início! Vocês de lembrarão!

— CAIEIRAS BOA VISÃO agradece a presença de todos enquanto fecham-se as cortinas, e senhores e senhoras das famílias Calónico, Olímpio, Pansutti, Parizotto, Rosolem, Barichello, Assoni, Teixeira, Bertaglia, Boscheto, Bimbatti, Camargo, Bertolo, Botoni, Casarotto, Cardoso, Della Betta, Decresci, Cunha, Cecatto, Carezato, Bayerlein, Maziviero, Massaia, Minuqui, Leme, Navarro, Fava, Fetka, Faberlow, Prando, Marquesini, Meneghini, Pavan, Molinari, Nanni, Nicolas, Pastro, Polon, Schiavo, Perin, Ricciarelli, Zovaro, Polato, Pereira, Valbuza, Lisa, Guilharducci, Satrapa, Fávero, Fernandes, Gabrielli, Gardin, Crema, Berti, Massineli, Mandri, Baboin, Coradini, Rachel, Caldo, Constantini, Toigo, Crispim, Turbuk, Degasperi, Bonini e tantos outros que a memória não traz a tona.

— Um momento! Aproveitando que estão em pé aplaudindo, permaneçam assim, ergam os braços e me acompanhem, olhem bem este salão, revivam as lembranças, os primeiros de maio, pois breve ele irá pegar fogo, outro será construído, mas muito das nossas vidas, as recordações, mais queridas estão aqui, aproveitem este é o instante derradeiro, aqui está terminando uma geração e depois é só a história.

 Até um dia, quando um novo Maquináia reunir-nos novamente.


Altino Olimpio