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O Menino da Serragem

Sem data marcada a antiga Caieiras desapareceu.
Lá, muita gente viveu, agora sendo do quase tudo que se esqueceu.
Fábrica de Papel Melhoramentos!
Com três vagões, já em curva à esquerda, a “maquininha” dos operários partia da estaçãozinha de concreto.
Por poucos segundos, pela esquerda já ladeava um alto barranco que, sobre ele e não muito distante, situava-se o salão de eventos do Clube Recreativo Melhoramentos, isso antes dele ser consumido pelo fogo.
Defronte do barranco, começando nele o mesmo nível dos trilhos daquela pequena ferrovia, o chão desaparecia no inicio de um brusco declive que se estendia por sob as águas do Rio Juquery. Serragem de carpintaria, encobria e escondia a cor da terra daquele abismo.
Vindas de sob a serragem ainda intacta, de vários lugares emanava fumaça branca que, intensificava o odor da madeira. Visíveis, pequenos focos de fogo, acusavam o lento queimar da serragem, que assim era consumida, evitando o acumulo dela.
Com borbulhas e redemoinhos, no rio o silencio se escondia nas águas que passavam. Enquanto que, pelo abismo que era aquele declive, aquele barranco íngreme, meninos descalços (costume da época) reviravam a serragem, satisfazendo suas curiosidades naquela pueril descontração.
Os restos de madeira serrada, com seus variados formatos, provocavam sugestões de figuras, trazendo silente interrogação aos meninos que, discutiam sobre com que as figuras se pareciam.
Alguns se serviam daquelas sobras de madeira para o incrementar do fogo dos fogões à lenha de suas casas.
Desprezado como perigo para uma queda para o rio, o barranco tapetado de serragem foi uma tentação:
Pés sobre e por sob a serragem, o rio passando, pássaros sobrevoando e o sol tudo acalentando, só isso existindo como sendo o mundo. Sem a lembrança que aquele barranco apenas era um pedacinho de um mundo muito maior.
A palavra menino quer dizer: integrado com a natureza.
Isso já vivi! Também fui um menino da serragem.
Serragem... ... como partículas iguais a ela, Caieiras antiga se desfez e através do tempo o vento as assoprou.

Altino Olimpio