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19/10/2007
Papai e Mamãe

Poucos se aventuram escrever histórias sobre suas vidas e sobre Caieiras donde nasceram e cresceram. Sendo assim, quem escreve sobre histórias, como neste caso, nenhuma importância dá e até mesmo despreza as possíveis críticas, porque, tendo a liberdade de expor os acontecimentos sejam quais forem, eles não interferem com a sociedade e muito menos com o caráter e a personalidade de quem os descreve. Se alguém pensa ao contrário quando lê uma história e critica o autor, pode contra ele sentir uma reação antagônica por se saber não ser desinibido igual na liberdade de expressão, como gostaria se quisesse e soubesse.

Dado o recado inoportuno e até contraditório para quem disse desprezar críticas, agora, um fechar dos olhos é automático para provocar um retorno ao passado e para o início da década de 1950. Na casa onde nasci estou sentado na escada de antes do portão da rua. Meu pai, Alberto Olimpio está conversando com um homem. Ele por dentro apoiado no portão e o outro pelo lado de fora. O homem é vendedor de uma modernidade que ninguém possui por aqui: enceradeira elétrica. Por falar em modernidade, papai possui uma motocicleta de mil e duzentas cilindradas e seus irmãos também, os meus tios Vitório e Antonio Olimpio. Eles são mais modernos e atuais do que os donos da Indústria Melhoramentos de Papel, pois, os mesmos ainda só passeiam a cavalo.

Nesta casa, além de meus pais, moramos eu, meu irmão Walter e minha irmã Anita. Meu irmão nasceu sete anos e meio antes de eu nascer e minha irmã quatro anos e meio. Mamãe, Carmem do Amparo Olimpio, cuida bem de nossa casa. Limpinha, sempre bem encerados e brilhantes os três quartos assoalhados e a sala com cimentado liso e vermelho. Mas, o vendedor continua esgotando seus argumentos para vender a enceradeira. Outros pela vizinhança já haviam comprado e aquela para minha casa estava sendo muito difícil de vender. Tornou-se uma questão de orgulho, pois, irredutível, nenhuma sugestão estava vencendo a defesa e recusa de papai pelo que insistentemente lhe estava sendo proposto. Outro vendedor apareceu como para auxiliar o primeiro e mesmo na vantagem dos dois contra um não realizaram a venda da enceradeira, apesar disso ter se delongado muito e eu curioso como sou assisti e ouvi tudo sentado na escada.

Papai é muito inteligente. Ele sabe que ao adquirir aquela novidade poderia diminuir a satisfação de mamãe depois dela encerar o piso da sala e dos quartos e esfregá-los com o escovão pesado, sendo de ferro por sobre os pelos. Eu também seria prejudicado. Mamãe muito habilitada em dirigir escovão, comigo sentado sobre ele no passa daqui e passa dali, no meu passar sempre deixo brilho. Mamãe sempre reconheceu as qualidades intelectuais de papai, pois, graças a ele por não ter comprado a enceradeira, continuando a utilizar o escovão, isso a impede engordar e de aumentar a quantidade de colesterol no sangue. Depois de um outro piscar de olhos retornei para estes tempos e neste aqui e agora percebo que papai tinha razão. Conheço mulheres que estão gordas e com muito colesterol por falta de escovão.

Altino Olimpio