Versão para impressão

19/08/2008
Nem Chaga o Tempo Apaga

E não é que o passado está sempre presente? Então é isso a velhice? Além da expectativa pelas notícias dos parentes, amigos e conhecidos que vão embora, com alguns até “furando a fila” de espera, temos “visões” de outrora e nelas nos vemos bem diferentes e não como distanciados neste agora. O tempo e os espaços ficaram mais curtos, entretanto, cada um mais vive em seu reduto e com outros não quer perder nenhum minuto. Quem ainda é do passado hoje vive decepcionado porque sempre lhe é lembrado como antes o viver era mais aproveitado, estimulante e mesmo mais apaixonado. Depois de uma conversa ao telefone com alguém que ainda é do passado, não furou a fila porque não é apressado, me vi de volta com fatos rememorados. A conversa boa e não árdua foi com o Toninho de Pádua. Temos a mesma idade e nascemos na mesma cidade. Dentre outros, me lembrei de um fato de quando a Vila Cresciuma de Caieiras era só de ruas poeirentas e com buracos. Existiam apenas duas ou três lojinhas de comércio e uma delas era a do Senhor Victorio Schirmanoff que também era alfaiate. Olhando pela vitrine, por muitas vezes “namorei” uma boina preta, mas, minha gagueira e timidez me impediam de comprá-la, até que um dia, imbuído de muita coragem a comprei. “Puxa-vida”, que fato surpreendente. Minha primeira alegria foi quando comprei um relógio de pulso marca “Franklin” e o dia todo ficava vendo as horas marcadas por ele. Comprei-o do Sr. Joaquim Domingues que trabalhava na Seção Pessoal da Indústria Melhoramentos, junto com o meu primo Valdemar Olimpio e com Walter Gomes (rato branco). Os três com um motorista (chofer) é que iam para São Paulo buscar os pagamentos de todos os funcionários da indústria. Nunca foram assaltados. Isso nunca me passou pela cabeça, será que eu já era tão burro assim? Voltando à história da boina, no primeiro dia que a usei foi lá no Clube Recreativo Melhoramentos do Bairro da Fábrica. Estava eu no pequeno pátio de entrada da sede do clube tomando água na torneira, aquela que sempre estava pingando e ficava defronte as duas vidraças da sala de snooker. Naquele instante apareceu a Vilma, filha do Sr. Donato de Freitas, irmã do Toninho (Antonio de Pádua de Freitas) e da Vera Lucia. Logo ela foi dizendo: vê se tira essa boina ai, você fica muito feio com ela, ela não orna em você, fica horrível. Barbaridade! Aquilo “pegou na veia”. Nunca mais usei aquela boina, contudo, pelo menos serviu para o meu gato amarelo dormir sobre ela. A Vilma também fazia parte daquelas paixões que eu nutria por aquelas mocinhas daquele local, das quais, elas nunca souberam. Hoje, pensando bem, por sorte ou proteção divina intercedendo por elas, nenhuma daquele lugar me “deu certo”, o que, acredito, tenha sido melhor para elas neste mundo tão incerto. Nessa vida, nessa maratona já além da metade, quase tudo perdeu a graça, excluindo a saudade, que, mais se aproxima com o avançar da idade, é quando a gente ri da ingenuidade da mocidade daquele tempo sem maldade, das ilusões esquecidas pelas realidades, estas é que são na verdade, a situação desta atualidade. O tempo passa, o tempo voa, parece que só vivemos à toa neste mundo agora com menos gente boa, de tantos acontecimentos que de nossos sentimentos destoa.



Altino Olympio