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24/11/2008
Dor que Mata em Vida

Em tempos idos, em Caieiras naquela Vila Leão de ainda sem água encanada, na rotina diária de uma família, esta não se imaginava prestes a sentir a maior dor do mundo. Crianças, esse nome chama na mente de qualquer um abençoado com sensibilidade, a pureza, a alegria, o mais profundo carinho e o amor tão amor, tão forte ininterruptadamente sentido e vivido entre crianças, pais e avós. Esse amor se mistura com a energia do olhar e os olhos tornando-se um fluxo constante, eles pousam e repousam na criança alegria da família jorrando nela esse sentimento que as palavras são incapazes de declarar. Voz “fina” de criança, seu olhar, sua graça, suas travessuras, seus trejeitos, seus risos, seus brinquedos e aquele seu ser mesmo um anjo quando adormecida é a felicidade de um lar completo. Num dia de rotina como outro qualquer, na rua com passantes todos conhecidos, pássaros sobrevoando, o rio em silêncio seguindo seu curso, nada parecia diferenciar na natureza e mesmo na natureza da vida dos moradores daquele local. Mas, numa família teve início uma preocupação. Entre si perguntavam: você viu a criança, onde está a criança? Chamavam e a criança não respondia. Procuravam e não a encontravam. A aflição tomou conta de todos. Na mãe então, desespero maior e um aperto no coração: minha criança, onde está minha criança, quero a minha criança. Depois de certo tempo de tão pronunciada agonia, resolveram procurá-la onde jamais uma mãe ou um pai quer procurar um filho. POBRE MÃE! Lá estava a criança sem vida dentro do poço. Foi o momento mais cruel da vida. Ela que se diz destino quando é cruel em seus desatinos. Uma mãe nunca é amparável, diante da dor de uma perda irreparável, inconsolável. Como um ímã, o amor sempre puxa ou empurra a criança para perto donde está o amor de onde ela saiu. Essa aproximação tão querida foi uma despedida despercebida. Foi em silêncio quando uma tarefa diária se interpôs como dona das atenções e ladra contra outras. Na tarefa a água do poço foi retirada e sua tampa fora recolocada conforme o zelo exigia. Por que às vezes o silêncio se faz inimigo? Por que ele se apoderou da criança impedindo-a de se fazer notar com sua puerilidade audível? Em que momento aquela criança caiu e ninguém viu e nem mesmo ela perto do poço? Os atos subseqüentes em família iriam ser decorrentes como sendo comuns se uma presença muito querida não estivesse sendo ausência. Talvez estivesse num dos cômodos da casa ou, brincando no grande quintal distante dos olhares? Não, em lugar nenhum estava. A procura terminou na grande dor que não se divide. Gritos, gemidos, lágrimas em profusão. A mãe, o pai, os avós e tios irmanados na mais profunda agrura da vida. Essa que todas as mães, todos os pais e todos os avós sentem pavor só ao pensar. Aquela mãe, aquele pai e aqueles avós, marcados por tão dolorida cicatriz, foram uma história triste dentre as “bonitas” ou engraçadas que são preferidas para se lembrar como se tragédias e tristezas não o fossem. Sendo mais correto assim, que esta triste lembrança não chegue ao conhecimento de quem ainda possa se emocionar e ainda se entristecer por aquela criança que como tal deixou de ser para desaparecer aos olhos de quem sem ela teve que permanecer e continuar a viver.

Altino Olympio