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17/06/2009
O trem das oito

Nos dias de semana o saudoso Clube Recreativo Melhoramentos do Bairro da Fábrica já era habitual para os jovens dedicados às suas descontrações, como, ping-pong, snooker, baralho, ou, assistir na televisão o Repórter Esso com Kalil Filho, Circo Arrelia e outras inocentes atrações da época. Entretanto, alguns jovens, inclusive, para diferenciar aquela rotina semanal, tinham outro translado. Embarcavam na Maquininha (trenzinho) das 18,40 horas rumo a Caieiras onde mais esse nome era pertinente. O objetivo era esperar o “trem das oito”, pois, vindo da Cidade de São Paulo, desembarcava as moças que “trabalhavam fora”, assim se dizia para diferenciá-las das moças empregadas na região. Alguns tinham namorada para esperar. Quem não tinha, lá estava na expectativa de ter uma. Dentre outros passageiros ao desembarcarem, as moças eram uma atração à parte. Seus trajes de então, tornavam-nas mais bonitas. Vestidos, saias, salto alto nos calçados e nada das calças compridas de jeans e dos tênis a confundi-las com homens, devido a ainda não existirem como moda. A elegância delas era muito atrativa e impressionava. O trem da Estrada de Ferro Santos à Jundiaí (EFSJ) assim como anteriormente era chamado, tendo partido e a Estação Caieiras tendo ficado no silêncio da ausência de pessoas saindo dela, uma melancolia se fazia presente. A melancolia discreta, secreta, se misturava com o rosto de alguém que desembarcou do trem e continuou no pensamento. O trem das oito, das moças bonitas e bem trajadas da volta do trabalho para o lar, na lembrança ainda soa seu apito de partida embrenhando-se pelo passado cada vez mais passado até se enfraquecer na memória.


Altino Olympio