Versão para impressão

27/06/2011
Jardim dos pedreiros

Jardim dos pedreiros

Este relato não é para os jovens de hoje. É uma história do passado e eles nada sabem sobre ela. Aliás, hoje não mais se incluem como parte de histórias como antigamente. Os idosos, aqueles ainda vivendo por aqui em Caieiras --agora são poucos (risos)-- vão se lembrar desta história. Era uma vez... (assim era o início do relato de uma história lá no passado). Então... Era uma vez, lá no Bairro da Fábrica, um ser grandalhão com sua carroça prestava seus serviços à Indústria Melhoramentos. Seu nome ou apelido era Jardim. Talvez tenha sido o mais trabalhador daqueles tempos idos. Nunca perdeu um dia de trabalho. Nunca gozou de férias. Nunca reclamou para ser promovido. Nunca reclamou por aumento de salário. Depois do fim do expediente às dezessete horas ele ficava esquecido na solidão por não ter uma companheira e sendo assim nem visitas recebia. Jardim era um ser claro de olhos grandes. Seus olhos transmitiam uma pureza e docilidade nunca vistas num ser humano. Às vezes se pressentia em seu olhar uma tristeza tão profunda como a de alguém inconformado com o seu destino. O trabalho do Jardim com sua carroça era transportar material de construção para as obras da Indústria local onde Valentim Cavalette, Luiz Carioca, os irmãos Joaquim e Sebastião Albino, o Pedrão, o João Chiati e outros eram os pedreiros. Sempre em silêncio, cabisbaixo, o Jardim às vezes levantava a cabeça. Ao olhar ao redor parecia dar a entender que era “consciente” da sua situação tão solitária. Parecia ser uma tristeza de viver sem ser notado. Mas não, até envelhecer o Jardim foi parte integrante da natureza daquele lugar, de todas aquelas ruas de chão batido, das matas adjacentes e daquelas vilas com gente simples. Como e quando o Jardim morreu? Isso eu não soube. O Jardim, “personagem” desta recordação foi um cavalo claro a se misturar nas paisagens daqueles tempos nostálgicos que não voltam mais. Pela memória ainda dá para vê-lo sempre puxando a carroça e passando pelo “pau de amarrá égua”, pelo armazém, pela escola, pela ponte de madeira e por outros recantos daquele lugar agora despovoado.