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Procura-se

PROCURA-SE!

“Procura-se o passado. Recompensa de um milhão de felicidades para quem o encontrar”.
--Desculpe interromper, mas, esse aviso ai “Procura-se” deve ter sido escrito por algum louco, o senhor não acha?
--Talvez. Ou então o aviso seja de alguém descontente com o presente. Assim que li esse aviso fiquei pensativo, nostálgico e na mente a ver-me como o menino que fui. Tem pessoas que não gostam de recordar seus passados, talvez porque não lhes tenha sido agradável, ou, são sem histórias vividas.
--De onde o senhor é?
--Eu? Sou de Caieiras.
--Onde fica isso?
--(Risos) Depois de Perus que é o último bairro da capital, Caieiras é a primeira cidadezinha do interior. Meu passado é de lá.
--E o que tem de especial lá?
--Agora não sei. Parentes, amigos e tantos conhecidos estão morrendo. Os que sobraram só são vistos quando tem alguma festa lá no velório.
--(Risos) Mas, as pessoas de lá não têm onde se encontrarem?
--Claro que tem. De vez em quando no supermercado, na lotérica, nas igrejas católicas, nas igrejas evangélicas, no centro espírita, nos bancos, na feira, no hospital e nas farmácias.
--Nossa! Então o lugar não tem atrações?
--Bem feito! Poderia existir uma zona para alegrar o lugar, mas, não querem.
--E bailes? Isso é bom para confraternizações.
--Ah isso tem sim de vez em quando, mas, bailes mais para velhos. Homens parecem que não são bem-vindos, pois, poucos comparecem.
--E os jovens onde se divertem?
--Já os vi de madrugada em postos de gasolina enchendo a cara de cerveja e, sei não se outras coisas mais.
--E as crianças têm onde conviverem com seus folguedos?
--Claro que tem. Na hora de recreio em suas escolas e já é muito.
--E não tem praça para os namorados com fonte sonora e luminosa?
--Ah isso é besteira, tem muitos motéis na região.
--Caramba, então o povo de lá não tem o que fazer.
--Como não? Tem sim! Onde acha que consegui meu mestrado em fofocas?
Olha... Se quiser conhecer a cidade me ofereço como guia turístico.
--Ah não, obrigado. Bem, já estou indo. Foi um prazer, tenha uma boa-tarde.
“Não sei porque tenho essa mania de conversar com estranhos perdendo meu tempo em elogiar minha terrinha. Vou mesmo procurar o passado e se encontrar, não volto mais para este presente”.

                                                                                          Altino Olympio

 

Sobre a crônica "Procura-se".
Essa crônica diz tudo: Caieiras não tem nada mesmo! Não tem praças, não tem parques, não tem fontes luminosas ( demoliram as poucas existentes ).
O ponto turístico é mesmo no supermercado, na feira, no Hospital ou nos velórios.
As pessoas de fora desconhecem nossa terrinha.
Só nós, os mais antigos ainda falamos dela com orgulho, talvez apoiados nas lembranças de uma cidade tão charmosa do passado.
Tudo de bom e de bonito da cidade ficou esquecido. Alguns como eu tentam resgatar o que ficou perdido no tempo através de recordações, fotos antigas e relatos magníficos como os expostos neste jornal.
É uma pena! Os políticos da cidade pouco se importam e nada fazem pra manter a história de Caieiras
A cidade dos pinheirais ficou pra "trais".
Que tristeza e que vontade de voltar no tempo e também ficar por lá!!!

   Fatima Chiati