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Gente catando lata

Gente catando lata

Algumas pessoas de outras regiões desfavorecidas por informações pasmem vocês porque elas nunca tinham ouvido a palavra Caieiras. O pior de tudo é que nos livros escolares da História do Brasil esse nome não consta, sacanagem. Graças a Caieiras elas tiveram com o que se limpar depois de se utilizarem do banheiro. Teve quem disse ter inveja de nossa vida tão marcante e feliz como foi. Como provocar inveja é tão bom para os nossos egos vamos continuar provocando. Lá lá lá lá... O lugar era predestinado só para pessoas merecedoras e com carmas positivos. Durante o dia enquanto os funcionários estavam produzindo papel na indústria local, seus filhos ficavam largados pelas ruas mesmo desde os cinco anos de idade e descalços. Era brincadeira pra cá, brincadeira pra lá com meninos misturados com meninas. Depois disso ninguém ficava enchendo o saco para se tomar banho, isso era mais aos sábados. Bom, pra dormir se lavava os pés e estava bom. O colchão era de palha de milho e se mijava nele ao dormir, então pra que tomar banho?  Mas num dia... TAM TAM TAM. Uma notícia auspiciosa interrompeu todas as brincadeiras infantis e juvenis. Estranhos tiveram autorização dos diretores da indústria para recolherem latas, ferros e sei lá se outras coisas mais daquela pequena região. Eles não recolhiam. Ficavam lá na pedra do Luiz Molinari ou do Valentim Cavaletti (eles nunca brigaram pela posse da pedra) que ficava defronte as casas dos dois. Naquela grande pedra que se sobressaia do solo, lá, por quilo eles pagavam em cruzeiro quem lhes trouxesse aqueles produtos descartados.   Só se via a molecada pelos matos próximos as residências e pelas barrocas que beiravam o rio catando lata, ferro velho e etc. “Falando” ninguém acreditaria. Era tanta lata, ferros e arames enferrujados espalhados por debaixo da mata e dos pés de machuchos ou maxuxos que brotavam a revelia onde queriam. Naquele tempo não havia lixeiro. Restos de comida os cachorros comiam. As latas vazias eram jogadas pra beira do rio. Algumas que ficavam pela rua as pessoas iam chutando e andando. Por não ter tido lixeiro naquele tempo, a vinda do “lixão” nesta época foi muito emocionante, muitos até choraram de alegria. Então né, lá na grande pedra os garotos iam entregar sacos cheios daqueles bagulhos a serem pesados numa balança e serem pagos conforme o peso de seus sacos. Todos eram muito educados e muito honestos. Só as muitas vezes o homem por considerar pesado demais os sacos dos meninos, ele xingava: Moleque safado, sem vergonha, sem educação pensa que eu sou bobo é? Ao esvaziar do saco que estava cheio, várias das latas propositalmente amassadas continham dentro um tijolo ou um pedaço dele, talvez para demonstrar o esforço tido por levar o saco atrás, nas costas. Incrível, tamanha imaginação não se esperava de garotos tão simples e de uma cidadezinha do interior. Tão jovens e já com tanta tendência política. Pena que nenhum partido da época soube daquele evento para poder cadastrá-los. Aquele catar lata e aquele levar ferro foram mesmo uma festa que perdurou por vários dias. A molecada se saiu bem com aquele comércio, pois, gastaram o dinheiro comprando figurinhas, pião, bolinhas de gude, bola de borracha, pirulitos, balas, turbaína e às escondidas compraram cigarros Beverly, Fulgor, Continental e etc. E assim chegamos ao fim desta história de lata. Dá pra ficar pensando “coitadas das pessoas que não nasceram e viveram em Caieiras, pois, se tivessem nascido poderiam imaginar como é o Jardim do Éden”.

                                                                                               Altino Olympio

 

Olá pessoal do jornal

 

Eu não nasci em Caieiras. Mas no Marapé, em Santos.

A crônica "gente catando lata" me fez viajar pela minha infância. Eu tb catava lata. Só que não era em saco e sim  em carrinho de madeira que eu mesmo fazia.

Esse carrinho servia pra fazer carreto na feira, vender laranja nos sábados e domingos nos campos de futebol da várzea e recolher latas e outros objetos que eram vendidos ao "Ferro Velho". "Ferro Velho" era o nome do homem que comprava. Não esqueço como ele roubava... Nós levávamos garrafas boas e ele dizia: Isso é "Vido quebado" e jogava no monte pra pagar menos.
Walter Coelho

Já viram saco de lata?