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A cesta de natal

Os moradores da Vila Leão seguiam, como muitos, as tradições do fim do ano.Montavam árvores de natal, limpavam e arrumavam  suas  casas com  quintais, preparavam   os quitutes, e compravam   presentes  quando era  possível.Os afetos na verdade  sempre foram  mais importantes naquela vila e por esta razão  os moradores se  visitavam como forma mais amorosa de se  confraternizarem.Faziam as novenas,oravam  e na igreja um lindo presépio sempre era montado, para ficar  em exposição durante todo aquele período festivo.Um fato porém, para mim foi marcante na época.Não sei se aconteceu somente aquela  vez ou se em outros anos também. Mas curiosamente naquele dezembro de  1964 (ou 1965) as famílias foram presenteadas pela Melhoramentos com    uma linda Cesta de Natal. Não era pequena ou comum.Ao contrário ,era até bem grande e exageradamente farta .Era  feita  de vime e com uma tampa de madeira na cor vinho.Não era lacrada.Possuía apenas uma pequena laçada  de sisal para  prender a tampa.Nas duas laterais, duas alças bem trançadas, também de sisal, ofereciam a segurança para o transporte de todas as mercadorias existentes em seu interior.Lembro que ao chegar, aquela cesta, causou espanto em  minha madrinha  (D.Cida Sant’Anna) e meu padrinho Juca.Fizeram a maior festa.Foi uma alegria abrir a caixa e se deslumbrar com tantas coisas boas.Haviam frutas secas, cristalizadas,castanhas,passas, pêssegos em caldas (meus favoritos),geléia,azeitonas,extrato de tomate,palmito ,bolachas torrone de amendoim e Cinzano. Para nós aquilo foi  um deleite.Afinal eram as novidades da indústria alimentícia,verdadeiras raridades   que, nem sempre  famílias humildes, podiam adquirir.Nosso guarda-comida ficou abarrotado de alimentos  para alegria da minha madrinha que, mais uma vez abençoou e agradeceu o gesto da empresa. Para completar  a felicidade dela, aquela cesta,que acomodava deliciosas guloseimas,depois de vazia, serviria para guardar objetos da casa.Foi o que aconteceu.Por muitos e muitos  anos e já morando no centro de Caieiras pude observá-la  sobre o guarda roupa de um dos quartos .De tempo em tempo ela saia daquele “podium” familiar e descia ao chão, para ser limpa e arrumada.Aquela cesta que tão aplaudida foi em nossa casa lá na Vila Leão, mesmo vazia continuava  sendo útil.Guardou brinquedos,cadernos de escola e por fim os  retalhos que sobravam das costuras de minha madrinha .O vime se preservou por anos a fio até que a modernidade invadiu  também a nova casa e a cesta foi então desprezada.Foi encostada por  mais algum tempo num quartinho do quintal até que, finalmente, foi inutilizada.Agora, recordando esta passagem  sinto uma mistura de  nostalgia e emoção .Penso que aquela  cesta bonita, hoje seria um lindo objeto de decoração,além é claro de  manter viva a alegria  dos belos sentimentos dos moradores da  casa. Penso ainda,  que  todas aquelas  delícias  que adoçaram meu paladar,acima de tudo  fortaleceram minhas lembranças, pois consigo lembrar claramente do contentamento de todos nós, abrindo as embalagens .Consigo lembrar mais ainda, das palavras de gratidão por tanta fartura.Lembro de tudo e me sinto feliz por ter presenciado uma cena tão singela e tão rara  nos dias de hoje .Sinto,  sem tristezas,  uma saudade imensa daquele importante acontecimento.Sinto   até uma vontade de, novamente,  ajudar  meus padrinhos a abrirem aquela cesta fantástica  que por tanto tempo permaneceu escondida num cantinho  esquecido do meu coração.Felizmente, em tempo, ainda consegui recuperar,restaurar não só a imagem de uma cesta de vime   mas, principalmente, tudo que aconteceu em volta dela.
FATIMA CHIATI