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20/12/05
Sangue e Alegria

Dia ensolarado. Arquibancada repleta, ela é circular cercando a areia da arena. A banda já executou suas músicas costumeiras e se ouve o vozeio do povo esperando pelo espetáculo.
Um portão é aberto donde surge um touro parecendo feliz com um sentimento de liberdade, porque, circula pela arena como que, reconhecendo o terreno. Homens a cavalo, por vezes espetam-lhe uma lança para irritá-lo e assim prepará-lo para ser toureado o que, logo acontece. Num elegante traje de marica e com sua capa, o toureiro se aproxima do animal e provoca-o para que lhe ataque. Isso o touro faz mas, é enganado pelo toureiro que se desvia dele com os artifícios utilizados com a capa. Cada vez que os chifres do touro passam bem rente ao corpo do toureiro, a platéia se inflama gritando olé, olé, olé. Depois, sem as artimanhas com a capa, indo de encontro ao animal, o toureiro espeta-lhe duas setas de metal que ficam dependuradas portando enfeites como, bandeirinhas. Voltando a tourear até que o animal fique cansado, é aguardado o momento de sua morte.
Unanimidade, todos estão contra ele. Na arena de areia pisoteada está o orgulho do touro que sozinho está contra todos. Das setas espetadas, sangue escorre-lhe pelo corpo de pelo curto, pigmentando a areia revolta, a testemunha silente da violência humana contra seres inferiores. Já cansado, o touro fica olhando para o seu carrasco. Naquele silêncio de morte, o toureiro lembrou-se que antes daquele “espetáculo” atirou seu gorro para uma donzela da platéia, significando isso que, oferecia-lhe a vida do touro.
Expectativa! Sem o agitar da capa vermelha o touro está imóvel e indeciso. Uma gosma branca pinga-lhe do nariz ou da boca. Bufando enquanto fixa o olhar no toureiro, uma de suas patas dianteiras está raspando o solo numa postura animal de ataque.
Como num ritual, num gesto elegante e vaidoso, o desenrolar a espada da capa provoca suspense no povo pela emoção que vai produzir uma morte violenta.
O aço frio da espada comprida reflete o brilho do sol. É agora! Touro e toureiro fixam o olhar, um no outro. Com o touro ainda imóvel, com uma das mãos o toureiro aponta-lhe a espada. Com outra mão, sacode a capa, o touro avança E O HOMEM ENFIA-LHE A ESPADA NO DORSO ATÉ O CABO.
O touro cambaleia, seu gemido a ninguém comove. Dobra os joelhos, sustenta-se neles até que tomba de lado, riscando a areia com um dos chifres e a areia fofa acomoda sua cabeça até seu último suspiro.
Aplausos e gritaria repercutem pela arena numa aclamação pelo “herói” que demonstrou sua coragem diante de um “inimigo”.
Antes dessa festa, o toureiro esteve na capela rezando para a Virgem de Macarena ou outra qualquer que represente a Virgem Maria para pedir proteção. Essa cumplicidade com a religião para violências desnecessárias, porque é ou era permitido?
Se Deus fosse como dizem que é, com certeza pouparia o touro e faria morrer o toureiro como castigo para servir de exemplo. Olé, olé, olé... ... ...idiotas!

Altino Olímpio