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26/01/2006
Conveniências

A conveniência é útil no relacionamento humano do dia-a-dia para os interesses se produzirem e se reproduzirem na sociedade. Sem conveniências entre seres humanos, a sociedade não consegue sobreviver. Se todos fossem “cada um por si mesmo” sem a necessidade de precisar de outros, sociedade não existiria. O se ser preciso para outros e de outros precisar, essa mútua contribuição movimenta a humanidade para ser como ela é, um resultado de conveniências para a sobrevivência humana.
Mas, agora, nosso assunto é sobre a conveniência mais isolada, particularizada, aquela sem compromisso com os resultados práticos e necessários do relacionamento humano.

Se conveniências não se realizam, “ficamos de mal” com pessoas que escolhemos por causa delas. Muitas amizades deixam de ser por causa disso. Muitos só são “amigos” porque somos convenientes para eles até quando nos tornamos inconvenientes por não termos seus mesmos gostos e o mesmo jeito de se ser. E sermos indiferentes aos seus gostos e seus jeito de ser, essa falta de cumplicidade os afasta. Esses amigos são aqueles sempre atentos aos nossos gostos e ao nosso jeito de ser e querem reciprocidade. Não as tendo, sentem-se magoados e é muito comum percebê-los com suas cobranças. Quase sempre, amigos existem para quererem ouvir nossas satisfações sobre nossas vidas e se não somos de dar satisfações, não somos amigos.

Muitos, existindo em suas carências de precisarem ser ouvidos sobre tudo dos cotidianos de suas vidas, sem se perceberem serem egocêntricos naquele “eu sou importante, isso ou aquilo é importante, eu escutei é importante, eu vi é importante, eu fiz, eu falei, aconteceu isto e foi importante, então é importante falar para um amigo, pois, para ele me ouvir é importante, meu assunto é tão importante e também tem de ser importante para o amigo, contar tudo para ele é importante”.
Nossa, que desgraça! Essa de ter amigo para a conveniência de despejar tudo de fútil transformado em importante somente naquele muito carente, doente por falar e apenas falar, torna a conveniência numa inconveniência odiada.

Nas amizades mais estáveis, a conveniência é ótima quando ela é ausente. Nós também, quando somos sinceros e percebemos nossa conveniência por algumas amizades e se só por ela tais amizades existem, delas nos afastamos se formos realmente honestos.
Muitas amizades são mútuas conveniências e duvida-se se alguém com tantas, consiga manter sua integridade. Os “amigos” sempre se estão interferindo, uns arrastando os outros para outros lugares e se deixam arrastar, porque, a conveniência entre eles criou a “consideração”, essa outra atitude criadora de suas escravidões.

As pessoas desconhecidas sendo como inexistentes para nós, quando num acaso conversamos com uma delas e no assunto entre ambos não existe a preocupação por um querer saber como é a existência do outro e nem mesmo seu nome, aquele ocasional encontro amistoso tem uma leveza contrária ao peso da “responsabilidade” sentida quando da presença de amigos. Com estranhos somos mais “soltos” e com amigos somos presos na nossa personalidade como os amigos nos conhecem. Com estranhos não existe conveniência e com amigos, mesmo só por sermos amigos, existe a conveniência de sermos amigos. Se tivermos essa carência, pagamos algum preço.


Altino Olímpio