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31/10/05
Localizado foco de maculosa no Rio

Vigilância encontrou em uma trilha de Itaipava, na serra fluminense, carrapatos que podem ser os transmissores da doença

Técnicos da Vigilância Sanitária da cidade serrana de Petrópolis, no Rio, encontraram m foco do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa, em uma trilha situada entre a área próxima à pousada Capim Limão e a propriedade vizinha, em Itaipava, acerca de 75 quilômetros do Rio. Um cavalo infestado pelo agente causador da doença foi localizado no terreno ao lado do estabelecimento, onde, ao longo de outubro, estiveram hospedadas as três pessoas suspeitas de contaminação pelo microorganismo Rickettsia rickittsii. Uma delas morreu e a outra permanece em estado critico. O sangue do cavalo e carrapatos encontrados no animal e na trilha foram encaminhados para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A Instituição, que também está avaliando amostras sorológicas dos três casos suspeitos, vai analisar se o material está infectado por R. rickittsii, um tipo de microorganismo, como bactérias e vírus. A divulgação do resultado dos exames dos pacientes está prevista para amanha. Embora tenha vários mamíferos e aves silvestres e domesticas como hospedeiro, o carrapato-estrela tem como alvo preferencial bois e cavalos. Animais e o homem podem ser atacados em fase do ciclo de vida do artrópode. Na forma de larva, quando é conhecido por micuim, ou de ninfa, torna-0se um perigo ainda maior, pois o tamanho minúsculo impede que seja facilmente percebido pelo alvo. A contaminação ocorre por meio da picada do carrapato infectado ou através de lesões na pele. Interditada preventivamente no sábado, a pousada foi alvo ontem de um novo auto, lavrado por fiscais da Vigilância Sanitária, pois, ao visitarem o estabelecimento, eles encontraram ainda 12 hóspedes. A saída deles foi acompanhada pelos técnicos. Embora inexistam focos de carrapato dentro da Capim Limão, a interdição temporária foi solicitada para evitar eventuais problemas, já que as pessoas que passam temporadas no local costumam circular pela área onde foi detectada a presença do chamado Amblyomma cajannense, carrapato causador da doença, que tem sintomas semelhantes ao da dengue hemorrágica e da meningite, como febre alta, dores no corpo, enjôos e manchas na pele. Um dos suspeitos de ter contraído febre maculosa, o superintendente de Vigilância Sanitária do Rio, Fernando Villas-Bôas Filho, de 41 anos, permanece em estado grave, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Quinta D'Or, em São Cristóvão (zona norte). Ele está respirando com o auxilio de aparelhos e tem a infecção e a pressão controladas por medicamentos. Tratado inicialmente como um caso de dengue hemorrágica, ele está recebendo medicamentos específicos para febre maculosa. Esta, assim como a doença causada pela Aedes aegypti, também causa hemorragias, pois o R. rickettsia ataca o revestimento interno dos vasos sanguíneos. O outro paciente, um professor aposentado de 62 anos, cujo nome não foi divulgado, a pedido da família, também está recebendo tratamento especifico para a doença desde quinta-feira, dois dias após sua internação. Segundo boletim médico divulgado pelo Hospital São Lucas, em Copacabana (zona sul), o estado de saúde dele é "estável" e a situação está "aparentemente sob controle". Porém, ainda respira coma ajuda de aparelhos e passa por sessões de hemodiálise. Assim como Fernando e o professor aposentado, o jornalista Roberto Moura esteve na Pousada Capim Limão, em Itaipava, no mês de outubro. Ele morreu na quarta-feira, de falência múltipla dos órgãos, com sintomas semelhantes ao da febre maculosa. Ele vinha sendo tratado como paciente de dengue hemorrágica. Capaz de matar o paciente em 80% dos casos, se não houver tratamento adequado, a doença foi detectada pela primeira vez no País em 1929, em São Paulo. De acordo com levantamento feito pela Superintendência de Controle de Endemias e da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, entre 1985 e 2000, foram registrados 47 casos, com 23 mortes. Há um mês, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, no interior do Estado, solicitou em caráter de urgência, aos Ministérios da Saúde e da Agricultura e a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma licença para aplicar carrapaticidas na universidade. Os carrapatos se tornaram um problema de saúde publica no município. A preocupação se justificava. Nas regiões mais contaminadas, havia até 2 mil carrapatos por metro quadrado. "A situação é muito grave", alertou, na época, o professor de Zoologia Wilson Mattos. Desde o ano passado, os alunos da Esalq não têm aulas práticas por causa da infestação dos carrapatos e dos risco da febre maculosa.

O Estado de São Paulo