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04/04/2006
Criaturas?

Enquanto muitos pregam a igualdade entre os homens, outros pregam suas diferenças. Para uma religião muito conhecida, seus fiéis são considerados seres humanos e são consideradas “criaturas” ainda, quem não pertence a ela. Isso foi dito por um comerciante ao convidar um seu freguês para também pertencer à religião dele. Em resposta o comerciante ouviu o que não queria: “Como você é cara-de-pau, considera criaturas todos os seus fregueses que não são da tua religião, mas, precisa deles para vender os seus produtos. Por que você não os vende só para os fiéis, os seus irmãos? E vocês ainda dizem que religião significa religar, reaproximar todos para cultuarem um Deus único. Não, obrigado, prefiro continuar como criatura, inferior a você por ainda não ser considerado um ser humano”.
E assim caminha a humanidade. Humanos ofendendo, rebaixando humanos pensando assistidos com a anuência de Deus. Quando nos deparamos com um fiel iludido de ser melhor por pertencer àquela religião, sua ilusão tão pueril cega-lhe enxergar o se aproveitar das realizações úteis produzidas pelas criaturas, “as infiéis”.

Não é incomum existir membros de uma mesma família separados por ideais religiosos. Sabe-se de irmãos que não visitam irmãos e não se misturam em suas ocasiões importantes, como numa cerimônia de casamento, por exemplo, só porque, uns não aprovam a religião dos outros. “Não posso comparecer porque eu não entro na casa de inimigo”. Esta sentença já foi proferida por irmãos contra irmãos consangüíneos, se referindo como sendo a casa do inimigo, o local da cerimônia do casamento, onde a religião é outra, considerada contrária e até espúria.
Irmãos de sangue se antipatizando e se inimizando por causa de religião, ah, ah, ah, ah. Se não fossem tão imbecis, o mundo não seria tão alegre. Contudo, cada um na sua religião, sabe dela ser a única perfeita, embora, tantas outras sendo “única” existam também.
A construção mais bonita que ainda existe é a Torre de Babel, porém, suas portas estão trancadas para as “criaturas” por serem ainda seres humanos não conscientes.
Ainda bem! Mas viu, que ninguém fique perturbado ao ler estas coisas porque quem as escreveu também ainda é uma criatura, então, indigna de crédito.
Ainda sendo criatura sou um ser muito triste, pensei em suicídio, mas, tenho um consolo. Nem Deus escapa de errar, coitado, caprichou tanto na criação dos seus filhos, porém, muitos deles sentindo-se seres humanos normais, classificaram muitos outros como ainda criaturas e eu sendo uma delas, a culpa não é minha, foi um erro da Criação. Agora entendo, aquele comerciante do início, ao convidar um freguês para participar de algumas reuniões de esclarecimento, esteve tentando salvar uma criatura de sua condição inferior. Foi bem intencionado.


Altino Olímpio