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10/04/2006
Solução Difícil

Um amigo do trabalho, pela incompatibilidade de viver com sua esposa, sempre procurava solução para o seu problema. Ele já havia freqüentado alguns locais, tentando obter ajuda, porém, abandonou-os pensando existirem outros mais eficazes.
Numa noite do ano 1982, acompanhei-o numa outra peregrinação e desta vez fomos até uma igreja messiânica. Lá, também de ideais e práticas importadas, fomos bem recebidos pelos freqüentadores mais assíduos cujas amabilidades impressionaram.
Seria para nos aliciar para suas mesmas convicções? Para aquelas proferidas naquela casa ---ainda não era uma igreja suntuosa--- vinda de outro país?
Eu e o amigo com problemas fomos convidados a entrar numa sala para participarmos da prática da “imposição das mãos”. Era uma novidade para os brasileiros daquela época e muitos aderiram a ela.

Sentei-me numa cadeira e numa outra defronte, sentou-se uma moça. Antecedida por algumas palavras de orientação ela iniciou o seu nobre desempenho.
Calado olhando-a de frente, via a posição da palma de sua mão que se intercalava com outra direcionada a meu corpo, transferindo-me alguma vibração ou energia que ela acreditava possuir. Para não constrangê-la, desviei meu olhar do dela e ele (sem querer) ficou fitando os seios dela, gostou deles e eu também. Esse desvio de objetivo acontece a toda hora em todo e qualquer lugar, mas, é tabu comentá-lo. É uma força inerente a qualquer ser humano normal e ela sempre se faz notar por quem a sente, mesmo nos lugares considerados sagrados. Disfarçá-la é o obvio.
Ouvindo este relato, os amantes da hipocrisia ficam “chocados”, ignorantes que o que é real e orgânico sempre prevalece diante das probabilidades intelectuais de uma circunstância sagrada ou respeitosa. Quem sabe disso isso não entra em conflito quando uma reação interna dos hormônios ou a libido seja imprópria para se fazer sentir em momentos considerados impróprios.

Voltando à imposição das mãos, a moça bocejava muito, pensando talvez, que eu estivesse carregado de energia negativa. Ao mudar de posição e ficar-me às costas, até senti seu hálito e nele percebi-a como estando com fome. Seu trajar denotava ser ela, uma pessoa bem simples. Pela imposição das mãos, que energias melhores do que as minhas ela poderia me transferir? Fico devendo a resposta.
É preocupante como muitas pessoas pensam ter o poder de modificar situações quando nem as próprias conseguem modificar. Não é incomum a força da auto-sugestão produzir modificação temporária em pessoas e isso as leva acreditar mais em suas convicções e nelas o “dom de fazer o bem” procura aliciar outras. E assim, muitas instituições comodamente sobrevivem com propaganda gratuita.
Quanto ao amigo ansioso por encontrar solução para a incompatibilidade com a esposa, nem daquela vez que hoje foi contada, e nem de nenhuma outra, encontrou “receita” ou fórmula mágica para criar sua compatibilidade com a esposa como tanto queria. Juntos até hoje, a incompatibilidade ainda persiste e assim se aturam com ele viciado ao ceder aos caprichos dela, senão...


Altino Olímpio