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06/06/2006
A Psique Humana – Parte 10

Se alguém se pergunta “quem sou eu”, seu pensamento faz um rastreamento rápido misturado do passado com o presente. Momentaneamente a pessoa se vê sendo como imagina que é. Imagens de seus familiares perpassam pela mente se interpondo com o grau de relação existente entre ambos. Tendo ou não contato amistoso com os parentes, algo tão sutil funciona como um liame a lembrar que eles têm um grau de importância diferente das demais pessoas do seu relacionamento comum. Os amigos são aqueles das amizades mais íntimas e são mais conhecedores do seu viver como, seus costumes, interesses, problemas, preocupações, trabalho, religião, situação financeira, desejos, gostos, entretenimento e etc. Os considerados apenas como sendo conhecidos e de relacionamento esporádico, lhes são indiferentes e pouco ocupam momentos de sua mente.

É comum quando uma pessoa pensa em como ela é, atrair para seu pensamento as pessoas de seu relacionamento, pensando em como elas pensam nela como ela é. Essa preocupação enraizada no viver é a escravidão de muitos. Tudo do que fazem ou querem fazer, esperam notabilidade e mais avaliações alheias do que as próprias. Quando param para refletir em como são, em pensamento são dependentes de se transferirem nos outros e neles procuram se ver como são, visto por eles, os outros. Na introspecção própria destituída de outros, uma pessoa se vê inserida no entremeio de seu mundo particular, familiar e material. Existe uma forte ligação com o que possui, ou melhor, quando ela se pensa em quem ou como é, ela se vê como sendo também o que possui. Seu “eu sou” pode ser confundido com a profissão e com o seu grau de instrução, ainda mais se ele lhe outorga algum título.

Porém, esse “eu sou” caracterizado no que se possui, na profissão e no grau de instrução formal, mais ele é lembrado na presença e comparação com outros. Quando na solidão e na ausência do “eu sou” que é calcado nas exterioridades das posses, profissão e instrução, uma pessoa pode se sentir sendo “um nada” ou “um vazio” sem ele. Só consigo mesmo e não precisando manter a aparência de como sua personalidade é considerada em público, alguém pode se surpreender por não ter uma imagem de si, diferente daquela que demonstra para todos. “O feitiço vira contra o feiticeiro” quando uma pessoa também se vê igual como as outras pessoas a vêem, conforme ela mesma as influenciou com o seu modo de ser.

Nosso modo de ser, como observado e conhecido pelos outros, faz parte da nossa personalidade com a qual somos conhecidos. Ela é o nosso lado exterior para ser atuante na existência com a sociedade. Muitas pessoas, mesmo quando ausentes de seus compromissos e distantes do convívio humano, profissional ou comercial, persistem no “culto” de suas personalidades, quando, deveriam esquecê-las. Seus momentos mais poderiam ser dedicados num autoconhecer isento da poderosa atração que o mundo material exerce sobre suas vidas. O despertar da curiosidade pelo “quem sou eu” facilitaria primeiro, saber o “quem não sou eu”, o nada tendo a ver com os títulos ou rótulos com os quais se é conhecido e também como muitos com eles pensam que se conhecem.


Altino Olímpio