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26/09/2006
Viver Amarrado Nos Outros

Foi numa quarta-feira 06/09/2000, que tivemos este assunto no programa de rádio.

Será que alguém sabe como conviver bem com os outros? Por que será que no começo tudo é tão bom e depois tudo se torna tão ruim? Sempre tem alguém que fala assim: Fulano é tão ma ra vi lho so. Passa-se algum tempo e a gente pergunta: Como vai o fulano ma ra vi lho so? E a pessoa responde: Fulano? Deus me livre, nem me fale no nome dele. Ele não presta! E a gente desata a rir: Ah, ah, ah, ah. Pois é, “como são ma ra vi lho sas as pessoas que não conhecemos bem”. Depois que passamos a conhecê-las... Elas não eram bem como pensávamos que fosse. É quase sempre assim.

Existem situações no nosso viver que poderíamos evitar se não fosse pela consideração que temos por outras pessoas. Contra vontade quantas coisas fazemos, tudo em nome da consideração que temos por alguém? Até vítimas de chantagem somos. Sempre alguém, direta ou indiretamente, nos faz cobranças, “estou te convidando e você vai comparecer, pois, somos amigos e se você não comparecer eu não vou gostar”. E o pensamento vem rápido, “que chateação, nenhuma vontade tenho de ir naquele lugar, mas, se eu não for ele vai se ofender e, eu vou ter que ir. Se não fosse pela consideração que tenho por ele, eu não iria”.Consideração, palavra chata, alienante. No local do “compromisso”, a consideração por outros fará também que se escute conversas insignificantes, desagradáveis. Consideração nos faz existir na existência dos outros.

Ai, no lugar onde fomos convidados para comparecer, uma voz interior misturando-se com o que estamos vendo e ouvindo fica perguntando: “O que estou fazendo aqui? Eu não pertenço a nada disso que aqui está ocorrendo. Chega, chega é hora de ir embora!” É a consciência reclamando e já não mais agüentando o ambiente. Também, que insensatez. Temos consideração pelos outros e não temos consideração por nós mesmos. Não queríamos comparecer, mas, comparecemos e assim, criamos um conflito interno, que, é o desagrado do não se sentir à vontade. Se fôssemos mais autênticos e já tivéssemos aprendido a dizer “não”, não teríamos tido este problema. Porém, nem tudo é mal. Na hora da despedida falamos e ouvimos palavras muito bonitas. “Que bom que você veio, mas, você já vai? Ainda é cedo. Então, você gostou?” “Sim, adorei. Novamente estarei aqui na próxima vez. (até parece). Muito obrigado por ter-me convidado, mas, agora eu preciso ir”.Numa ocasião, alguém insistiu muito com a presença de um amigo num lugar que o alguém muito gostava. O amigo compareceu, mas, na hora de se retirar o alguém lhe perguntou: Que tal gostou? E o amigo respondeu: Claro, gostei porque aprendi uma coisa muito importante, pois, aqui nunca mais eu volto. Essa autenticidade não é um “bem viver” na sociedade, pois, é uma afronta para os hipócritas que pensam uma coisa e dizem outra e tudo em prol da conveniência e da consideração. Enaltecem muito o sempre falar a verdade, sempre ter autenticidade, mas, mas, mas. Para falar a verdade e ser autêntico é preciso ter muita coragem ou ser louco se para viver ainda se precisa dos outros. Contudo, isto não é dirigido ao “qualquer um” que se sente feliz em qualquer lugar.

Altino Olímpio