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22/04/2008
Estudo usa veneno contra Alzheimer

Equipe da USP seleciona aranha para desenvolver novo remédio voltado a pacientes com doença degenerativa

Uma substância encontrada no veneno de uma aranha comum no cerrado brasileiro pode ser a chave para um novo medicamento destinado a pacientes com mal de Alzheimer e outras doenças degenerativas, como esquizofrenia e epilepsia. Pesquisa desenvolvida no câmpus da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, conseguiu separar uma substância produzida pela aranha Parawixia bistriata e, com o trabalho, impedir a morte de células do sistema nervoso.

A equipe da USP extraiu a glândula do veneno da P. bistriata para separar suas moléculas. A substância afeta a quantidade de glutamato no sistema nervoso. O glutamato é um aminoácido responsável pela comunicação entre os neurônios, chamado de neurotransmissor. “Por algum motivo, a liberação em excesso do glutamato aumenta a estimulação e mata as células do sistema nervoso, que não se regeneram”, diz o professor do Departamento de Biologia da USP Wagner Ferreira dos Santos, um dos pesquisadores envolvidos no trabalho.

Como na aranha o glutamato é responsável pelos movimentos, foram coletadas várias espécies e feitas experiências em ratos, em laboratório, simulando crises convulsivas. A P. bistriata apresentou o melhor resultado em laboratório, já que a maioria dos ratos não desenvolveu doenças. Isso poderá, no futuro, evitar a progressão de doenças neurodegenerativas em humanos. “Os medicamentos existentes hoje diminuem a estimulação, mas não bloqueiam a morte celular dos neurônios, o que a pesquisa foi capaz de fazer”, comemora Santos. “Não tínhamos idéia do mecanismo da ação do glutamato”, comenta.

Outro pesquisador, Joaquim Coutinho-Netto, da Faculdade de Medicina, diz que a pesquisa traz boas perspectivas, pois há 30 anos não se tem novidades na área e os medicamentos são do começo do século 20.

ETAPAS

Pesquisadores das faculdades de Medicina e de Filosofia, Ciências e Letras participam dos estudos, que começaram há 14 anos e ainda não foram concluídos. No momento, eles trabalham na estrutura química da molécula.

Em seguida, será feita a síntese química, para produzir a molécula em laboratório, pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Então, ensaios com animais deverão ser realizados para encontrar o melhor método de uso do medicamento (injetável, comprimido ou outro). Só depois seriam feitos testes em humanos. Com os investimentos necessários, o início dos testes em humanos deverá ocorrer em sete anos, diz Santos.

Uma parte da pesquisa está sendo desenvolvida em Pittsburgh, na Pensilvânia (EUA), pela pesquisadora Andréia Cristina Karklin Fontana, que integra a equipe. O estudo foi publicado na revista americana Molecular Pharmacology no final de 2007.

O Estado de São Paulo