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02/06/2008
Sonhar acordado


Descobriu-se que as causas que nos levam, na vigília, a crer em certas coisas, e não em outras, são, em essência, análogas às que atuam nos sonhos, na insanidade ou no hipnotismo (Bertrand Russell).

Fácil de entender, isso sempre ocorre entre os não habituáveis a pensar por si mesmos preferindo absorver pensamentos dos formadores de opiniões. Quando alguém agrupado com outros numa espécie de psicose coletiva a ouvir um orador, seu raciocínio afastado funciona como uma válvula aberta deixando penetrar conceitos independentes de serem reais ou irreais. A condição de expectador a ouvir histórias e pensamentos que não são nossos é parecida com a falta de domínio sobre eles quando dormindo sonhamos e estamos à mercê da invasão das inverdades intrusas. Quando acordamos e lembramos do sonho nós os refutamos como sendo irreal, claro, foi apenas um sonho. O mesmo não acontece quando podemos estar ouvindo inverdades porque, sabendo acordados, sugestionando ou não elas não são refutáveis como são nos sonhos.

Ser sempre expectador e acatar idéias alheias improcedentes é contrário ao discernimento com que cada ser humano é provido como herança de seu nascimento. O viver desacostumado de refletir sobre conceitos novos ou, mesmo os repetidos que vão surgindo durante a existência, isso, enfraquece o discernimento e robustece a dependência por aceitar a “verdade” dos outros sem avaliações. Ser assim é se posicionar favorável ao condicionamento com que outros estão a impor, inclusive, até com propósitos de obter vantagens nada nobres. Muitas das verdades que falam esses propensos a serem apenas expectadores, elas são tidas como oriundas de um sonhar acordado, devido, como salientado, de um proceder disposto a ouvir com o discernimento enfraquecido para refletir.

Altino Olímpio