Versão para impressão

02/09/2008
Todo Mundo na Lona

Quando no ano de mil e quinhentos o Brasil foi “descoberto” por portugueses, parece que “esticaram” a lona de um circo, da Europa até aqui. Os invasores vindo de longe e de civilização mais antiga, eles junto trouxeram suas idiossincrasias, isto é, suas maneiras de ver, sentir e reagir sobre a vida, inclusive com seus conceitos sobre um outro mundo, o do além, que, depois desta vida encarnada daqui, os seres humanos teriam suas almas julgadas. Poderiam obter recompensas ou danações eternas, conforme tenham sido suas vidas dedicadas ao bem ou ao mal. Aquele ano estava ao meio da terrível inquisição católica que foi uma das maiores vergonhas da humanidade, quando, milhares ou milhões de pessoas foram torturadas e depois assassinadas, inclusive em fogueiras e em praça pública. Oficialmente a inquisição teve início em mil duzentos e trinta e quatro e perdurou até o fim do século dezenove, para perseguir e punir quem a igreja considerasse herege, inimigo ou, contrário às suas proclamações dogmáticas. A frase “pai perdoai-os, pois, eles não sabem o que fazem” mais devia ser restrita àqueles auto-intitulados intermediários entre Deus e os homens. Naquela época do “descobrimento”, os indígenas já tinham suas crenças abstratas, pueris, mas, bem mais inocentes do que as dos invasores. Já existia um circo cuja lona abrigava um picadeiro para espetáculos de superstições. Ainda hoje como noticiado num documentário, alguns índios acreditam que a lua menstrua e às vezes ela é “homem” e noutras ela é “mulher”. Interessante não? Aqui, os habitantes foram se multiplicando e costumes foram importando. Religião original entre os brancos diferenciados dos índios nunca existiu. Somos cristãos porque este país foi “descoberto” por europeus. Se fossem árabes, fatalmente seríamos mulçumanos ou budistas se os nossos descobridores tivessem sido outros. Somos a obra do acaso que aqui primeiro chegou e se implantou. Essas denominações ainda hoje fazem com que os “todos somos irmãos” se dividam e até se matem. Seria até engraçado se não fosse tragicômico. Sapientes dos imponderáveis com que os “civilizados” acreditam e se envolvem, não são eles diferenciáveis dos indígenas com seus imponderáveis. Desde ao nascer provido com o desenvolvimento do raciocínio, o ser humano o relega ao desuso pelo sem esforço mental proporcionado pela imitação. De raciocínios bloqueados, muitos ao ler não conseguem entender um texto. Se assim são, suas ignorâncias os impedem de perceber que por isso, não estão preparados para avaliar conceitos mais profundos sobre a existência, principalmente aqueles oriundos da imaginação humana sobre poderes outros sobre-humanos que nos supervisionam. Mas, ao contrário, esses são os que mais “sabem” e contagiam e contaminam outros iguais a si com conceitos indemonstráveis e até hoje improváveis. O “ver para crer” foi varrido da intelectualidade humana e isso, quase todos tornou vítimas e cúmplices das realidades da irrealidade de hoje. Acreditam para benefício ou egoísmo próprio, em violações das leis do universo, as quais, também estariam disponíveis para reger um mundo diferente deste para a mesma consciência humana que vive neste, se é que existe outra. Concluindo, a grande lona foi desdobrada por todo o mundo. Ele tornou-se um grande circo e o melhor, é gratuito. As incoerências, as fantasias, os delírios, as imaginações, as mágicas mentais e os ilusionismos sempre estão no picadeiro provocando tanto riso que, pela alegria pode-se dizer: vale a pena viver.


Altino Olímpio