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23/01/2012
Cinquenta anos em cinco horas


Cinqüenta Anos em Cinco Horas

Hermano Leitão

Meio século de vida parece um espaço de tempo considerável para formar um quadro sobre a vida por meio de uma retrospectiva dos eventos e pessoas que causaram impactos nas mentes e corações, sobretudo porque viver num país sul americano insular das vagas mundiais tem as vantagens de se estar aberto para tudo que o homem pode ser capaz. No retrovisor, da ditadura militar dos anos 70 ao governo populista do início do século XXI, a regra de ouro tem sido o controle da massa por meio da propaganda ideológica - da direita para a esquerda -, sob o combustível ora das armas ora do dinheiro fácil, sempre mediado pela corrupção humana. Sem diferença de fundo, “ESTE É UM PAÍS QUE VAI PRA FRENTE” até “NUNCA ANTES NESTE PAÍS”, a realidade é mascarada para por em prática projetos de poder de ideologias sempre anacrônicas, ou, da ameaça armada e escancarada ao mais boçal culto à personalidade do querido líder, o ideário é a conquista da unanimidade subserviente dos formadores de opinião ávidos pelas vantagens do capitalismo de Estado. Para não dizer que não se falam das flores, os incompreensíveis destinos de Jane Joplin a Amy Winehouse - a passar pelos Beatles, Michael Jacson, Elton John e Madonna -, fizeram outra revolução sem armas e sem rancor no comportamento de uma geração abismada por sexo, droga e rock n´roll. A sublimar as dores do coração com Roberto Carlos, Caetano Veloso, Cazuza, Renato Russo, Cássia Eller e Mariza Monte bem que se quis guardar segredos de liquidificador, mas restaram os caracóis dos detalhes de um estranho amor por uma vida bandida. Talvez esse período transformou muitos em esquizofrênicos como Zelig; em mudos para se dançar conforme a música no Baile; em reféns da mística como na Vida de Brian; em colecionadores de Retratos da Vida; em frívolos como nos Embalos de Sábado à Noite; em inocentes úteis como Forrest Gump; em confusos como em Zabriskie Point; em folclóricos como na Marvada Carne; em catolicamente lascivos como em Decameron; em infantilizados como em E.T; em passionais como em Moulin Rouge; fervorosos como em O Pagador de Promessas; ou em hedonistas como em Hair. Seja como tudo for as reiterações dos fatos da vida também emolduraram a paisagem cinqüentenária, a clamar por razões que só o inconsciente permite desvendar. No cenário da criação lúdica, as talentosas Fernanda Montenegro e Beth Goulart protagonizaram respectivamente A Moratória e O Jardim das Cerejeiras em uma coincidência dramatúrgica perturbante, justificável somente pela existência de um inconsciente coletivo que faz reverberar iguais idéias ao redor do mundo. Esse alargamento da energia da libido proposto por Jung talvez explique o amor de Lorca por Salvador Dali, o qual rendeu a infertilidade de Yerma e um quadro de um assassinato com um reiterado desenho de um pênis impotente, que, aliás, Freud desvendou como a inveja propulsora e humilhante do Mal Estar na Civilização ou o motor das relações de porder e da impossibilidade do amor entre os homens. Em suma, cinqüenta anos podem ser uma ilusão de tempo sem espaço para sobrevivência de humores em cinco horas, mas ressuscitam sentimentos de uma nostalgia particular, que sucumbe à realidade da era irracional do carbono corrosivo de vidas e de sonhos.