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18/06/2012
Conclusões idosas

Nas árvores o som de folhas se debatendo está em silêncio, porque o vento, um dos meios da natureza se fazer notar está ausente. Por sobre a copa das árvores avista-se nuvens escuras removendo-se e se interpondo entre o azul transmissor dos dias bonitos. Já choveu e uma leve brisa paira invisível só se fazendo notar com o seu frescor. Emudecida, a natureza aquieta também a alma e a alma apela para se refugiar nos pensamentos. Pensamentos... Às vezes trazem alegrias e outras vezes nos trazem lamentos. Nesse se voltar para dentro o mundo de fora fica de fora. O estar consigo mesmo é o deixar a memória nos contar a nossa história. No agora, ela nos reproduz cenas de outrora. Nós nos vemos como fomos antes lá no passado e hoje, tanto tempo tendo passado, parece que nada há restado.  Agora sou pensamentos em quase todos os momentos e o mundo parece que fecha a porta a dizer que nada mais me importa. A vida se esparrama para a vida dos filhos até quando para eles ainda não for um empecilho. Quando chove lá fora vendo as águas que se reúnem penso, elas não são como os seres humanos que se desunem. Mas, o pensamento não para, ele me quer ausente deste presente já no apuro quando não mais se pensa em futuro. Agora o porvir só me faz sorrir. É o porvir de dias sempre iguais e nada mais. São dias sem amarguras, mas, ausentes de aventuras. São dias sem rumo e assim me arrumo não mais querendo novidades e não mais acreditando nas mentiras das verdades. Eu me cansei. Está a parecer que já estou a esperar o meu deixar de ser, o meu desaparecer. Onde estão as ilusões que me causavam emoções? Onde me estão as superstições que distrai e abriga a todos em suas imaginações? E a vaidade que nos impulsiona a sermos vistos com outros em busca da notoriedade, onde ela foi parar? E as sinceridades por que não mais são autenticidades? E o pensamento fica a me repreender: Tolo, bobo, a senda pela realidade te desprende dos prazeres da humanidade. Afasta-te das falsidades. Não há lenitivos pra quem vive de realidades, pois, ela não tem atrativos. Para muitos, seus deleites são preencher a vida com enfeites. Contudo, a vida é uma ilusão, porque, nós só somos existência numa ocasião e ocasião não é perpetuação. Embora a vida em ti ela atue ela não é tua. Chega pensamento meu! Chega, pare e me deixe em paz. Por anos e anos todos me foram desenganos. Agora sou só e nisso eu insisto, pois, de todos eu desisto.  

 Depois dessa leitura...  Esta música do Taiguara de fez ouvir:

  "Eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia. Um lugar que dê tréguas ou me sorria, uma gente que não viva só pra si. Só encontro gente amarga mergulhada no passado procurando repartir seu mundo errado nessa vida sem amor que eu aprendi..."  

Cometários:      

Achei maravilhoso este texto. Mas me deixou triste. Ele diz tudo que sentimos quando a idade e a maturidade se instalam em nosso dia a dia.
E justamente neste período da vida que, nos deparamos com a perda de ilusões, vaidades, sonhos e tudo que nos mantinha cheios de empolgação. Estas talvez sejam as perdas  mais profundas da existência humana.
É aí também que a gente percebe o quanto a irrealidade é  mais emocionante e o quanto nos impulsiona a viver  mais alegremente.
Resta, porém, um conforto de que, não estamos sozinhos nesta constatação.  Ela bate à porta de todos os seres vivos e só não percebe quem não quer.
A música do Taiguara, também é lindíssima. Mas na juventude não  prestei muita atenção à letra. Hoje ela tem outro valor.
Gostei dessa crônica lida neste jornal.

Fátima Chiati 

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 Lindo e triste essa constatação...
Porém, eu ainda nao desisti de ser feliz, e quando mergulho no passado relembro dos amores que vivi.
Agraço a Deus por nao viver com amargura, mesmo que a vida as vezes se apresente com nuvens escuras, tenho esperanças que o Sol volte a brilhar.
Ainda acredito no amor, na familia e na tal da felicidade, que é feita de momentos de alegria e prazer.
Da alegria de ter amigos que nao me abandonan e me ajudam a recordar do meu passado e de um tempo tao feliz, que nao volta mais e eu sei, mas, tambem ninguém pode tirar isso de mim.
Obrigada a este jornal por me proporcionar reflexões sobre a vida.

Vera de Freitas Carvalho 

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Altino Olímpio