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23/07/2012
Lista de Compras

Dia desses me peguei observando uma criança brincando no estacionamento de
um desses supermercados da vida, quando do alto de minha rabugice avaliava o
risco daquela brincadeira despreocupada num local daqueles e me perguntava
onde estaria a cabeça daquele pai ou daquela mãe, indiferentes ao
corre-corre da criança. Fui tomado por um segundo de ausência, daqueles em
que o relógio parece parar indefinidamente, e a cena fica completamente
transparente à nossa observação e, instantaneamente, o raciocínio àquele
respeito ressurge pronto, parecendo sempre ter estado ali, nas gavetinhas de
nossa consciência, naquele cantinho escuro do armário. E só então dei por
mim, percebendo um brilho a mais nos olhos, refletidos no retrovisor do
veículo que acabava de estacionar. Não era a peraltice da criança objeto de
minha atenção, tampouco a despreocupação dos pais a me incomodar. Era a
espontaneidade daquele menininho, imediatamente refletida nas expressões de
minhas crianças. A autenticidade de alguém absolutamente alheio aos arroubos
mal-humorados de um qualquer. Talvez tivesse descoberto um mundo novo, o
mundo daquela criança, naquele momento, construído bem ali naquelas vagas de
garagem. Preferi deixar as preocupações do dia seguinte, para o dia
seguinte. Respirei fundo. Fui fazer compras. Trouxe muito mais pra casa do
que estava anotado na lista. Às vezes ...é bom ir ao mercado!      

 


Fábio Cenachi