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15/11/2012
Jogo em aberto

A esta altura do calendário, as bolas de cristal dos analistas de conjuntura já estão voltadas para 2013. Uma panorâmica nos aparelhos de previsão já acionados para o futuro próximo, contudo, ainda não fornece uma visão clara do que se pode esperar do ano que vem. Dúvidas sobre a extensão do período de manutenção dos juros básicos e da trajetória do câmbio jogam algumas nuvens de fumaça nos horizontes de projeção. Mas o fator que torna mais espesso o nevoeiro é outro: a taxa de investimento.

Em relação ao ritmo de crescimento econômico, observa-se, no momento, uma convergência na direção de uma expansão de 4% na economia sobre 2012. Contudo, depois do fiasco das previsões de fins de 2011 para este ano, é melhor um pouco mais de cautela. Quando 2012 começou, a mediana das projeções era de um crescimento de 4,5% no ano civil. A evolução de apenas 1,5%, praticamente já consolidada, mostra que o chute passou longe do gol. Até que ponto é possível garantir que um desvio do mesmo calibre não volte a ocorrer em 2013?

A dinâmica da evolução do investimento, chave do enigma do crescimento de 2013, não está facilitando a vida dos analistas. Variadas indefinições tornam o exercício de previsão cheio de armadilhas. Para começar, a disposição declarada do governo em estimular o aumento da capacidade de produção e de remover gargalos a esse aumento, peça importante da equação, nem sempre tem resultado em ações eficazes.

Antes de tudo, as perspectivas da economia global não são animadoras. Mais de cinco anos depois da sua eclosão, a crise global entrou numa nova etapa, mas ainda sem vislumbre de superação sustentada. Na zona do euro, a situação agora é caracterizada pela redução dos riscos de ruptura e pela perspectiva de prolongado período de baixo crescimento. Nos Estados Unidos, a concentração dos esforços na política monetária tem evitado o aprofundamento das baixas, sem conseguir, porém, indicar uma retomada mais rápida. E a China, o baluarte econômico que amenizou as perdas nas etapas anteriores da crise, entrou em zona de incertezas.

Em circunstâncias como as atuais, é difícil negar que cabe ao governo um papel ativo na criação de condições de incentivo ao investimento. Ocorre que o governo da presidente Dilma Rousseff demorou a fazer o diagnóstico da situação e, quando o fez, passou a atuar com excessivo ativismo, abrindo um leque talvez exagerado de frentes. São muitos, de fato, os marcos regulatórios em debate ou em fase de reformulação. Isso cria, antes que o ambiente regulatório se ajuste e as decisões de investimento encontrem terreno mais firme para deslanchar, incertezas inibidoras da implantação ou ampliação dos negócios.

É certo que também existem fatores que atuam como elementos de incentivo ao investimento. Desse lado da questão, ganham destaque a redução dos juros e os avanços recentes nos sistemas de financiamento de prazo mais longo, bem como uma gama de desonerações tributárias. Se a falta de perspectivas para a expansão da economia é uma trava essencial aos investimentos, a ausência de linhas de financiamento adequadas é certamente elemento crítico capaz de abortar um eventual ímpeto investidor.

No balanço dos pontos favoráveis e desfavoráveis ao ambiente dos investimentos, há ainda itens específicos a serem considerados. Sem falar na Petrobrás, que responde sozinha por cerca de 10% do total dos investimentos e, em fase de rearrumação, reduziu o ritmo de inversões, mas sem dúvida voltará a investir, assim como voltará a investir o setor de construção civil ainda afogado em estoques.

Um bom exemplo é o dos caminhões. Classificado como fabricante de bens de capital e responsável por 5% do total dos investimentos brasileiros, o setor viveu, em 2012, um período de adaptação à produção de motores mais eficientes e menos poluentes, que elevou os preços e travou as vendas. Estímulos especiais, em vigor pelo menos até o fim do ano, podem, no entanto, levar a uma rápida e intensa recuperação setorial.

Quem, em resumo, está olhando mais para os entraves, que levaram a taxa de investimento a recuar em 2012, do que para as possibilidades de deslanche dos investimentos, tende a projetar, desde já, crescimento de 3% ou até menos, abaixo dos 4% medianos, para a economia em 2013. Mas há também os que, acreditando mais na disseminação de projetos já na ponta da agulha, não se surpreenderão com evolução nas vizinhanças de 5% para o PIB no ano que vem, acima mesmo das projeções oficiais. O jogo de 2013 ainda está em aberto.


José Paulo Kupfer - O Estado de S.Paulo