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13/09/2006
Nova polêmica envolve antiinflamatórios

Estudo indica risco cardiovascular e laboratório contesta

Dois anos após do mercado do antiinflamatório Vioxx e um ano depois da suspensão das vendas do Bextra, em função da publicação de estudos que atestavam que o medicamento aumentava os riscos de problemas cardíacos e renais, surge outra polêmica. Novos estudos científicos sobre os efeitos colaterais de antiinflamatórios indicam que remédios amplamente prescritos também aumentando risco em até 40% de enfartes e derrames.
Um deles refere-se particularmente ao diclofenaco, no mercado desde 1988 e vendido sob os nomes comerciais Voltarem e Cataflam, ambos do laboratório Novartis. A empresa, no entanto, garante não ter planos de suspender as vendas, feitas no Brasil facilmente sem receita médica.
Segundo pesquisadores da Universidade de Newcast, na Austrália, o composto aumenta o risco de acidentes cardiovasculares em até 40 %, desde o primeiro mês de tratamento. “O resultado é surpreendente”, diz o farmacologista Antony Wong do Hospital das Clinicas de São Paulo. “O diclofenaco faz parte de uma geração de antiinflamatórias que protege contra a formação de coágulos sanguíneos e, portanto, evita problemas circulatórios. Mas precisa ainda ser confirmado com estudos clínicos.”
Além do diclofenaco, existem hoje no mercado mais quatro princípios ativos da chamada primeira geração de antiinflmatórios, os não esteroidais: ibuprofeno (Advil), nimesulida (princípio do Nisulid), naproxeno (Naprosin) e piroxican (Feldene). Eles agem principalmente numa substância que participa do processo de inflamação chamada COX-L.

TESTES APONTAM PROBLEMAS COM OS REMÉDIOS VOLTAREM E CANTAFLAM.

Ela está presente em todo o organismo. A boa noticia é que nem todos os remédios antigos apresentam os mesmos problemas. O naproxeno não influenciou o sistema cardiovascular, por exemplo.
O FDA, órgão que regula remédios e alimentos nos EUA, anunciou que as novas evidências não mudarão a resolução sobre os antiinflamatórios não-esteroidais.
Em nota, a Novartis diz que “a meta-análise não é aceita pelos órgãos reguladores como evidência clinica para suporte de registro de produtos”. A empresa, entretanto, garante que vai analisar mais profundamente o assunto. “Não reconhecemos a validade médica do estudo”, afirma Nelson Musolini, diretor corporativo da Novartis.
Foram revisados 23 estudos clínicos, que envolveram cerca de 1,6 milhões de pessoas.
Os dados foram publicados ontem no site da revista da Associação Médica Americana por causa de suas implicações da saúde pública-na versão impressa, sairá apenas na primeira semana de outubro.
A revista também publica novas evidências de risco da segunda geração de antiinflamatórios, os inibidores seletivos de COX-, presente nas articulações. Entre eles estão o Bextra, o Celebrex , considerado boa alternativa pelos médicos, aumenta o risco de doenças cardíacas quando ministrado em altas doses. O Vioxx aumentava a chance de problemas renais em cena de 50% e quase triplicava o risco de enfartes.


O Estado de São Paulo