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24/10/2006
País terá novo remédio para câncer de cabeça e pescoço

Anvisa aprovou o Erbitux, considerado de última geração e está na categoria de terapia-alvo, que ataca diretamente as células cancerosas

Adriana Dias Lopes

Nos próximos meses chegará ao Brasil o primeiro remédio de última geração para tratamento de câncer de cabeça e pescoço, que inclui a região entre o nariz e o esôfago. O cetuximabe (princípio ativo do Erbitux, da Merck alemã) recebeu ontem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A cada ano, são diagnosticados cerca de 30 mil casos deste tipo de tumor. Até agora, a doença era tratada com quimioterapia, radioterapia e cirurgia. O Erbitux faz parte do grupo de medicamentos chamados “terapia-alvo”, com ataque direto ao mecanismo das células cancerosas que estimulam a expansão da doença. As drogas tradicionais agem com pouco critério, atuando em todas células que se dividem com velocidade.

Na forma injetável, o novo remédio mata as células cancerosas de duas formas principais. “Ele é um anticorpo que se liga aos receptores de crescimento presentes na superfície das células cancerosas”, explica Luiz Paulo Kowalski, diretor do departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer, em São Paulo. Ao chegar lá, faz com que esses receptores sejam bloqueados. Com isso, as células deixam de se multiplicar e morrem - o câncer é a multiplicação desordenada das células.

Outra forma de agir é fazendo com que esse anticorpo se ligue a esses receptores e sirvam de alvo de atração para o sistema de defesa do corpo (veja na ilustração ao lado). “Ele (o anticorpo) estimula o sistema de defesa do organismo, que passa agir mais intensamente contra as células do câncer”, explica o oncologista Paulo Hoff, diretor-executivo do Centro de Oncologia do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

A droga age das duas maneiras ao mesmo tempo. “Esse anticorpo tem a forma de Y. As perninhas de cima fazem com que os receptores sejam bloqueados e a ‘haste’ fica para fora e serve de alvo para as células de defesa do corpo”, conta Hoff.

TUMOR AVANÇADO

O novo medicamento é indicado para os casos de câncer avançado que não responderam à quimioterapia, à radioterapia nem à cirurgia. “O cetuximabe simboliza a melhor contribuição da Medicina para este tipo de tumor nos últimos 30 anos, mas não elimina os outros tratamentos”, analisa Kowalski.

A região da cabeça e pescoço é delicadíssima. “O número de vasos e nervos nessa parte do corpo é muito alto, o que torna a região uma das mais complexas”, diz Hoff.

Em fase inicial, a possibilidade de cura dos tumores de cabeça e pescoço é de 75% a 90%. Em fase avançada, a chance de cura é de no máximo 30% - cerca de 85% dos casos são detectados em etapa adiantada.

O estudo clínico que comprovou a eficácia e a segurança do cetuximabe mostrou que a sobrevida dos pacientes com câncer avançado tratados com a droga em associação com radioterapia foi de 49 meses. Só com radioterapia, 29,3 meses. Manchas na pele são o principal efeito colateral do medicamento.

Na mesma linha de terapia-alvo só neste ano foram aprovados pela Anvisa pelo menos quatro remédios, como o Tarceva, para câncer de pulmão (Roche), e o Sutent, para rim (Pfizer). Todos estão na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão do governo federal que regula os preços dos medicamentos no País, e ainda não chegaram ao mercado.


O Estado de São Paulo