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24/09/2014
Reflexões indesejadas

Reflexões indesejadas

Não sei se Deus criou o Homem ou o homem criou a Deus. (Dostoievski)
Os religiosos acreditam que Deus criou os homens e os ateus dizem que os homens criaram Deus. O que se sabe é que o homem surgiu neste planeta, mas, nada se sabe para que ou para qual propósito. Se para os ateus o homem surgiu de um acidente da natureza, então não houve propósito para o seu surgimento. Como todos os animais ele deverá nascer, viver e morrer e é só isso. Se o homem foi uma criação de Deus conforme acreditam os religiosos, qual teria sido o propósito do homem na terra? Ninguém sabe ao certo. Além do apenas viver e morrer, o homem teria alguma outra função para justificar sua vida? O planeta terra não precisa dele. O universo não precisa dele. Apenas os homens precisam uns dos outros para o bem conviver, subsistirem. Só essa justificativa é comprovável. Se existir outra, fica apenas na suposição e na imaginação. Sobre a pergunta “por que estamos aqui?” existe resposta convincente? Respostas improváveis e mesmo incoerentes existem várias.
Outra justificativa para o porquê nós estamos aqui se encontra na Bíblia. Deus nos criou porque lhe agradou fazê-lo. Fomos criados para o Seu prazer. Da primeira à última página da Bíblia a mensagem é clara. Fomos criados para o Seu prazer. O apóstolo Paulo escreveu em Colossenses 1:16: “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, seja soberanias, quer principados, quer potestades.  Tudo foi criado por meio dele e para Ele”. Interessante! Se formos criados para o prazer de Deus, o que teríamos de interessante para agradá-lo? E Ele, sendo perfeito precisaria de agrado? Não seriam apenas os seres humanos os desejosos de agrados?

A conhecida história de que Deus primeiro criou um casal para ele se multiplicar convence muitos e muitos não se convencem. Teria Ele criado seus filhos e depois tê-los deixado às suas próprias sortes? Tivemos duas guerras mundiais e com a consequência de muitas mortes. Na segunda grande guerra tendo início no ano 1939 e terminando no ano 1945, como são sabidos, naquele desespero seis milhões de judeus foram exterminados e milhões de outros de outras raças também. Nos campos de concentração, os prisioneiros já em estado esqueléticos pela fome não imploraram a Deus pela suas salvações? Os pais não rezaram para Deus proteger seus filhos das atrocidades cometidas pelos alemães daquela época tão desumana e assassina? Se eles imploraram, se rezaram e se suplicaram de nada adiantou, porque, pais e filhos foram impiedosamente massacrados conforme a história registrou.  Aqueles prisioneiros imbuídos de fé ou não, só tinham Deus como esperança de salvação, mas, tal não aconteceu. Então, não há como não deduzir que Deus, se existe, Ele não está para se envolver com problemas humanos, sejam eles sobre guerras ou catástrofes que vitimam homens, mulheres e crianças, todos tidos como filhos Dele. Mesmo depois dessas constatações verídicas, muitos ainda estão a pedir proteção divina, esquecendo-se de quando mais o mundo precisou da proteção Dele para salvar aqueles infelizes do holocausto e Ele pareceu não estar onisciente e onipresente como muitos acreditam. Se Ele não se manifestou como proteção naqueles tempos de tanta crueldade, seria de se manifestar em tempos de paz quando nas amizades as pessoas desejam entre si o “que Deus te acompanhe, que Deus te proteja, que Deus te abençoe?” Seriam essas palavras apenas palavras utilizadas para o conforto ou gentileza entre as pessoas? Isso impressiona favoravelmente quem aprecia e acredita no poder que as palavras possam ter.

                                                                                                         Altino Olympio
Comentário sobre a crônica “Reflexões indesejadas”.

Ajudaria muito se começássemos a compreender que Deus não governa o universo e, muito menos, as nossas vidas. A própria crença de que fomos criados por Ele é incoerente. Nós, humanos, temos uma linha de raciocínio que não se aplica às verdades superiores. 

Por que algo que existe deve, necessariamente, ter sido criado? A própria ciência constata que a natureza apresenta elementos que derivam de outros elementos, sem que, para isso, exista a intervenção que pudesse ser chamada de criadora.

Eu acredito que o Homem derivou de uma energia primordial, da qual, convencionamos chamar de Deus, simplesmente porque, na tentativa de estabelecermos contato com essa força, precisaríamos evocá-la de alguma forma e, para tanto, precisaríamos rotulá-la com algum nome. Isso, obviamente, aconteceu de maneira subconsciente.

A sabedoria esotérica nos ensina que "Deus nos fez à sua imagem e semelhança". Incorre em erro, aquele que, apressadamente, deduz que então Deus deva ser parecido conosco. Quase que a totalidade dos seres humanos crê, subconscientemente, e, nessa falácia imagina Deus com um aspecto humano, o arquétipo gasto do velho homem sentado em um trono a vigiar nossas condutas.

Quando as escrituras afirmam que Deus nos fez à sua imagem, pretende revelar-nos que derivamos dessa energia primordial, trazendo todas as características dela em nós mesmos, e não o contrário! Mas, à medida que nos afastamos dela, fomos nos embrutecendo, após camadas e mais camadas de matéria sólida que transformou-nos no que somos hoje.

Segundo minha crença pessoal, essa é a gênese do conceito de religião. Uma espécie de lembrança remota, melancólica, de um tempo em que estávamos ainda segura e confortavelmente, ligados a essa força superior, essa célula mater da qual nos desprendemos para atingir, cada um de nós, de acordo com suas próprias inclinações, nosso destino final que acontecerá, inexoravelmente, no momento certo e da maneira correta...
                                                                                                                                                Valdivan Milici

Sobre o nosso destino final que acontecerá, o rapaz não explicou e eu não sei qual será. (Altino)