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06/01/2015
A ponte do encantamento

A ponte do encantamento

Existiu-me um lugar encantado e às vezes ele me volta ao pensamento. Caieiras, Bairro da Fábrica e um trecho de terreno neutro entre os fundos de quintais das casas da Vila Nova e das casas da Vila Pereira. Por cima de tal terreno passavam cabos de alta tensão vindos de lá do Bairro de Perus, São Paulo. Num espaço mais largo, algumas vezes famílias da Vila Nova e da Vila Pereira e participantes de outras vilas se reuniam para um festejo junino. Fogueira, rojões, comestíveis da época junina, bailinho e até a dança da quadrilha dançavam sob a luz do luar. Passando por esse lugar agora lembrado, mais a frente o terreno declinava um pouco até uma ponte. Bonita como era, pintada de preto fora construída com caibros bem aplainados. Os parapeitos ou corrimãos de ambos os lados eram de grossos cabos de aço. Não havia rio ou córrego por baixo dela. Debaixo dela era um galinheiro não sei pertencente a quem da Vila Pereira. A ponte fora construída para vencer aquele brusco desnível de um lado a outro daquele rebaixo usado como galinheiro. O local e a ponte sempre estavam desertos. Eu já tinha a tendência de às vezes me isolar e, muitas vezes estive naquela ponte sozinho com meus pensamentos. Mas, meus pensamentos mais eram dedicados a uma mocinha de quem muito eu gostava. Garoto ainda, no meio da ponte eu ficava sentado sobre o cabo de aço superior da ponte com os pés apoiados no inferior. De onde eu ficava sentado, dava pra ver ao alto e distante, algumas casas da rua de nome Bairro Chique. Era visível, apesar da distância, o lado dos fundos da casa da mocinha que eu gostava. Muitos momentos eu ficava na ponte a espreita para poder vê-la. Isso era difícil de acontecer embora eu tivesse insistido por vários dias nesse intento. Uma vez, eu a vi saindo de casa e ficou por uns instantes, parada lá no seu quintal. Naquele dia fui recompensado e ela nunca soube que uma bonita ponte me amparava enquanto em segredo eu nutria carinho por ela. Aos sábados sempre tive esperança de vê-la fazendo compras no armazém. Algumas vezes tive esse prazer. Aos domingos sempre eu a via no Clube Recreativo Melhoramentos durante as partidas de futebol quando as famílias compareciam. O tempo foi passando, nós ficando adultos, embora, jovens ainda, mais eu a via e dançávamos nos bailes do clube. Ela era minha preferida para dançar. A timidez de ambos impedia uma aproximação mais íntima. Tantas vezes na ponte encantada desejando vê-la mesmo ao longe, felizmente, o tempo ao passar favoreceu tê-la por perto muitas vezes. Hoje quando o olhar do meu pensamento se direciona ao passado, ele me vê naquela ponte querendo ver a mocinha que sempre invadia meus pensamentos. Embora nunca tivéssemos sido namorados, ela foi o meu primeiro amor.  

                                                                                                              Altino Olimpio