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06/04/2016
A “basura” no México

Há alguns anos vim morar no México. Não exatamente por opção livre e consciente mas cheguei aqui! A primeira coisa que me advertiram é que não me assustasse com a quantidade de lixo nas ruas, já que meu país antecedente foram os EUA!

De imediato já procurava lixo por todas as partes e imaginava que triste fim viver num país de terceiro mundo!
Primeiro passeio na praia e quase tenho um infarto fulminate. O garçon atendente atira uma caneta na areia sem exitar e olha para mim:
“A suas ordens”!
“Como”?   
“Que desejas senora”?
“Comece recolhendo esta caneta que você acaba de atirar na areia”!
“É que não serve mais para escrever”!
“Sim, percebi! Mas desde quando esta areia da praia é pote de lixo”?
“Olha senhor, com todo respeito a seu país e a sua praia, este lugar faz parte da vida de muitas pessoas e se o senhor não retirar agora esta caneta, eu chamo a polícia, greenpeace, quem seja mas você sai daqui com a caneta na sua boca”!
Depois de uma desculpa e escutar um “Sermão da Sexagésima”, ele retirou a caneta e saiu com meu pedido que seguramente voltou com um pouco de cuspe!
Agoniada com este novo mundo que estava por começar a viver, decidi fazer algo a respeito e entrei em uma fundação de crianças com discapacidades para dar aulas de artesanato com materiais reciclados! Sabia que não era grande coisa mas que, ao menos os papais poderiam se dar conta do quanto é importante educar sobre natureza, lixo, etc! Logrei atingir um mínimo de atenção até que começaram querer comprar minhas “obras de lixo”!
Longe de ser uma artista plástica e por outras razões mudei do lugar em que vivia mas segui em México! Na tentativa de dar um lugar mais “natureza” a meus filhos vim morar num pequeno povoado, num rancho literalmente, e meu coração começou com espasmos diários ao ver que a falta de educação quanto ao lixo seguiria gritante em todos os lados por onde caminhasse!
Como o Universo sempre ajuda encontrei uma escola com grande consciência e propostas de conscientização sobre a necessidade de reciclar e todo este blablabla!
Em casa tenho o costume de separar os lixos orgânicos, inorgânicos e dos inorgânicos as latas, vidros etc!
Eis que, o que faço com este lixo limpo? E então, para minha surpresa e alegria descubro vários centros de reciclagem, ou melhor, descubro associações de “garis ecologicamente corretos”! São cidadãos muito humildes dedicados a comprar e vender o lixo inorgânico para indústrias de reutilização.
Em uma de minhas entregas basurentas ecológicas perguntei se existia lugares para entregar umas bicicletas e máquina de lavar roupas que estavam quebrados.
A resposta: “Senhora, passamos em sua casa, recolhemos e depois pode vir aqui e pagamos por estes objetos, nós mandamos absolutamente tudo para centros de reciclagem!”
Olhando aquelas pessoas que ganham pouquíssimo para separar lixo, entretive me em  pensamentos divagantes e percebi que este trabalho é para poucos. Ser “gari” é uma prestação de serviço essencial para nossa porquice diária. Estes senhores, senhoras e jovens saem diariamente para separar este lixo e enviar a indústrias o resto para deste resto começar tudo de novo! E independentemente da necessidade econômica (que todos temos), estas pessoas estam tão conscientes do que significa este lixo que decidiram viver dele!
Sim! Tem dinheiro envolvido e até penso que é muito correto, estão trabalhando decentemente!
Longe de entrar na questão de um mercado de “lixos”, minha intenção aqui é transmitir uma lição chamada “a conscientização começa em pequenas comunidades”, qualquer que seja o assunto.
Que surpresa enorme ver que ao invés de estarem nas ruas mendingando decidiram fazer algo monetariamente rentável e útil para uma sociedade que praticamente não sabe nem que a calçada é para andar e não para jogar lixo!
São pequenas vozes como estas que podem (e tenho certeza que farão) mudar o rumo do pensamento imediatista e imundo de muita gente!
É no meio da multidão que estão também os grandes “avatares” de nossos tempos!
É entre a pobreza extrema que leva a busca de outras alterativas dignas que encontramos seres determinados a não perder tempo com vitimizar-se e correr atrás de um ganha pão digno!
Pode parecer ridículo um discurso tão esperançoso para aqueles que pensarem só na questão financeira desta realidade. Mas não importa, o que realmente tem valor é que os filhos e os amigos e os vizinhos destas associações de “garis” não atirarão seus lixos pela janela! Juntarão, no mínimo para ganhar seu alimento do dia seguinte!
Parabéns a todos catadores de lixos desta fresca sociedade que vira o nariz quando sente o cheiro ruim do lixo de seu próprio lixo!
 

Daniele de Cássia Rotundo