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25/07/2016
Fragilidades de todos nós

Por quase um mês (desde 25.06) dolorida e com um traumatismo de costela, pude pensar no estágio irreversível  da vida, onde nada pode ser feito além de esperar. Lamentei pelo meu azar com mais este problema osteoarticular e blasfemei, como qualquer ser humano, contra o tempo que levou minha jovialidade, contra a dor física que incomodava, contra repouso obrigatório e contra maratona Hospital/Médico, tão diferente daquela vivida, em 35 anos de trabalho na área hospitalar. 

Para relaxar, li bastante e refleti além da conta. Numa destas leituras, uma frase me chamou a atenção: “Nascemos sós e morremos sós”. Era uma afirmação triste, porém realista e que fazia sentido naquele meu momento de imprevisibilidade. Foi quando, escrever sobre o assunto, virou uma terapia sedativa para minha alma inquieta. Ajudou-me a repensar  sobre as condições de impotência diante das tragédias  e surpresas da vida. Ajudou-me a entender a vulnerabilidade por detrás da nossa arrogante autossuficiência. Ajudou-me a desmitificar  a solidão, da qual não escaparemos um dia, a possibilidade da morte e finitude de nossas capacidades, sejam elas, físicas ou psicológicas. Ajudou-me a vivenciar a  assustadora efemeridade humana, revalorizando o valor da família e dos maravilhosos amigos. Ajudou-me a reconhecer a dedicação despojada  daqueles que me amam e se importam comigo. Ajudou-me  a exercitar minha tolerância adormecida, a resignar-me e a dar graças por não ter acontecido nada pior.

Rodeada por tantos pensamentos, nada mais justo que, refletir, também, sobre esta tal fragilidade emocional que me atingira. Uma  fragilidade que é malvada, inesperada e que não manda aviso prévio pois, puxa, de repente, nosso tapete e nos deixe em súplicas. Uma fragilidade que é impiedosa e indelicada. Não pede licença e se instala do nosso lado como se fosse uma amiga íntima. Uma fragilidade que é avassaladora e corrosiva. Extirpa nossa lucidez, destrói nossa independência e derruba nossa autoestima. Uma fragilidade que  é mesquinha, é cruel. Ameaça-nos com suas farpas venenosas, tira-nos o viço, o brilho e o entusiasmo por tudo. Abocanha nossas forças e nos açoita de medo. Uma fragilidade que entorpece como o ópio, confunde nossos pensamentos, nossa racionalidade e provoca os maiores pesadelos. Uma fragilidade que desmancha prazeres, expurgando nossos planos e melhores projetos de vida.

Amigos, eis algumas das minhas fragilidades!
Fragilidades que fragilizam tanto ou mais que um osso fraturado e cujo tratamento não está à disposição em nenhuma rede hospitalar. Curam-se na raça, e nas próprias contradições. Ao mesmo tempo em que, nos debilitam, nos  estimulam a  “sacudir a poeira e dar a volta por cima”. Por quê?
Por que frágil é a vida, frágil é a condição humana, frágeis são as relações, frágeis somos todos nós e  todas as nossas complicadas emoções.
E se, mesmo  entre tormentas ou turbulências, cumpre-nos viver... Que tenhamos a coragem como  nossa maior aliada.
Da mesma  forma, que  tenhamos  Deus, materializado por  nossos afetos, amigos e amados. Neste apoio reside nossa maior fortaleza para conseguirmos driblar as grandes e pequenas fragilidades do corpo e , principalmente, as da alma.

Fatima Chiati