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01/08/2016
Os gênios do Colégio Walter Weiszflog

Durante o período colegial convivi com pessoas especiais que engrandeceram minha vida, me deram a mão e muita colaboração nos estudos. Isaurinha Berti, Magali Fonseca e Marco Aurélio Pinheiro Lima são alguns exemplos. Foram amigos dedicados, superdotados e com inteligência muito acima da média.  Eu, já naquela época, não apreciava as matérias exatas. Gostava das letras, da história, da poesia, da geografia fantástica dos países, rios e montanhas. Gostava de gramática, dos acontecimentos históricos e de literatura. Não entendia para quê me serviriam aquelas fórmulas e equações. Só para desestabilizarem, logicamente. Afinal, aquilo não era a minha praia.

Para eles, no entanto, o “rio corria manso”. Penso que, seus extraordinários neurônios ficavam mais alegres e fortalecidos com aqueles cálculos complicados. Já os meus? Definhavam e me faziam sentir a mais incapaz das criaturas.

Nas décadas de 60/70, no Colégio Walter Weiszflog em Caieiras, tivemos o melhor currículo escolar e os melhores professores. Mesmo assim, minha mente literalmente poética, não assimilava tantas funções e frações. E só com eles, os gênios da minha turma, consegui melhorar minhas notas. Na mureta do pátio escolar, Magali Fonseca corrigia meus exercícios e me preparava para uma possível ida ao quadro negro. Isaurinha Berti, “minha professorinha particular” ajudava-me, única e exclusivamente, pela nossa deliciosa amizade. Marco Aurélio Pinheiro Lima, “o crânio” da minha geração, não vacilava em arrastar sua mesa para perto da minha, socorrendo-me naqueles logaritmos e fórmulas físicas das quais ele, era perito.

Magicamente, estes gênios da minha juventude movimentavam suas canetas sobre meu caderno, explanavam e doutrinavam invejavelmente. Para completar, regavam aqueles momentos, com um bom humor tão peculiar que acabavam conseguindo, heroicamente, que eu aprendesse! Impossível não aprender. Eles eram ótimos! Tornavam tudo simples e óbvio.
Hoje, admito sem constrangimentos que, apesar daqueles esforços todos, nunca consegui ter grandes afinidades pelas “tais ciências exatas”. Em 1974, convicta de que, escrever era a minha paixão, optei pelo curso de humanas e fui para Franco da Rocha, num outro Colégio, onde concluí o ensino médio (3º colegial). Desde então, nunca mais explorei meus geniais e gênios amigos. Deixei-os. Separamo-nos.

Guardados no meu coração, como o gênio da lâmpada de Aladim, de tempo em tempo eu os trago de volta. Lembranças, então, retornam aos meus pensamentos me fazendo reviver cenas extremamente afetuosas ao lado do grupo genuinamente humilde, solidário e sem nenhuma arrogância por saber mais do que eu. Fechando meus olhos, ainda consigo ver aqueles rostos juvenis, com seus cérebros cheios de potencialidades. Enxergo aqueles sorrisos marotos transbordando amizade e docilidade. Reconheço, o quanto foram mestres ao repassarem seus conhecimentos, o quanto foram dotados da genialidade despretensiosa e o quanto marcaram profundamente a minha vida.

Eternamente grata a eles, entrego-me à carícia desta delicada nostalgia. Alegro-me, por sabê-los felizes, realizados. E, por tudo que conquistaram ao longo de suas escolhas profissionais, só me resta aplaudir, emocionada, o sucesso de cada um deles. Um sucesso merecido que, sem sombra de dúvidas, teve início naquela década de ouro. Uma década, simplesmente, maravilhosa e para sempre inesquecível.

Fatima Chiati