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19/04/2017
Família um conceito complexo

Fato: Viajei 15 horas de carro para meu filho de 11 anos ver um primo que não via há no mínimo 4 anos.

As historias do que aconteceu neste encontro são o estopim para esta reflexão.

Roteiro : avião México – Houston. Houston mais 15 horas de carro até o destino FINAL.

Família: “conjunto de todos os parentes de uma pessoa, descendência” (MINIDICIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA)

Ajustar nossos anseios aos novos conceitos de família ao mundo moderno, não é o mais difícil.

Que novas formas de entender e aceitar a conjunção de pessoas num objetivo chamado familiar, surgiu avultando o paradigma tradicional nas ultimas décadas, é fato inconteste.

O problema mesmo é adaptar nossos sentimentos ao que realmente acontece quando esta enraizada seita humanóide vem questionar os membros de nossa “célula mater.”.

Também não é fato novo que o homem ao longo de sua trajetória e instinto conquistador de terras e novos horizontes, muitas vezes “deixou” a amada família para empreender viagem ao desconhecido. O homem saia para a guerra, a caça e as Helenas esperavam bravamente o retorno de seu herói ou a noticia da morte em batalhas, se chegava a acontecer a informação. E então? Que acontecia com aquela família, de uma época tão antiga e misteriosa?

Quando um desbravador decidia que seu espaço era pequeno demais para suas ganas de conhecer o mundo, ele agarrava seus apetrechos mais importantes e fugia de sua mesmice, abandonando este suposto lar formado por pai, mãe, irmãos, avós, tios, primos e na maioria das vezes, ali ficava um adeus eterno.

Há os povos que migraram e imigraram com seus pertences familiares, ditos pessoas e viveram como nómades mas levando esta herança matéria viva.

E assim, as civilizações formaram-se em meio as despedidas do velho (mas sempre determinante) e a gemente voz do futuro e suas visões menos tradicionais.

O ponto de reflexão é: este sentimento profundo e totalmente legítimo de família esta comprometido também? E me refiro a sensações, a emoção pura.

Em maior ou menor intensidade “família” ou “sem família” beira um constrangimento de emoções no qual muitos não conseguem discernir por que se calam ou ignoram que é preciso tratar do assunto com percepção mais realista. E esta realidade é subjetiva, sem duvida alguma.

Explicar a um filho que família não são somente aqueles que tem nosso sangue e, por errônea suposição, deveriam nos amar acima de todas as coisas se tornou um dilema e quase uma ruptura de laços consanguíneos em muitas “famílias”.

Sem pretensões de causar uma polêmica épica, mas já ciente das consequências destes apontamentos, família é: pessoas que compartem laços genéticos, num conceito amplo? Família e amor de família estão embutidos no que se espera de uma família?

Amor de família é o verdadeiro emblema e bandeira do núcleo que vivemos?

Bom mas se família são seres com alguma ligação física, como amor de família seria algo diferente?

Pelo óbvio, o conceito de família além de arcaico e falho, esta desfalcado de algo que não se vende para as famílias : o sentimento, seja de gratidão, amor incondicional, companheirismo, ou o que você eleger em seu coração.

Então, primo, tio e seus derivados não são família necessariamente?

Sim, se eles fazem parte de seu micro mundo interno e compartem as emoções que você tem por eles, reciprocidade seria a palavra. E não, se o valor que você da ao sentir for desproporcional a obrigação de “ser da família”.

Estou escrevendo que não amo meus familiares se eles não correspondem a minhas expectativas?

Não. Estou escrevendo que isto que chamam de família, e morrem dizendo que são o tudo de suas vidas, esta imerso em vínculos não apropriados para um mundo onde cada um pensa em si e corre atrás da sua bola.

Esta ousado isto. Sim.

Família, aquela que se reúne ao redor da mesa de natal e depois de 30 minutos de convivência esta se estapeando pelo dinheiro da avó que morreu, é família por imposição social, moral, política ou goela abaixo mesmo.

Ah! Mas todas famílias têm problemáticas. Têm. Inegável. Somos seres diferentes, e isto não nos transforma em ex membros de uma família.

Mas, família de coração, é para mim e para muitos a família verdadeira, aqueles que estão longe ou perto mas nos respeitam, nos acolhem por um e-mail ou uma conversa, são aqueles que se preocupam pelo nosso bem estar e fazem das tripas coração para ajudar com uma palavra ou mesmo com silencio nossas agonias, e sim, podem ser os parentes consanguíneos.

Então, você casa e resolve formar uma família, levando todas as tralhas da sua família origem. Seu marido, sua esposa (homem, mulher, hermafrodita, como queiram) não tem seu sangue. Ele (a) não é família? É sua família, aquela que você escolheu para compartilhar o arroz e feijão, ou o pão com mortadela, suas lágrimas e alegrias, seu bafo matinal e sua dor de barriga diária.

E então, decidem adotar, ter filhos, fazer inseminação artificial, comprar gatos, cachorros.

Esta é sua família.

Tios, os primos, os avós, não são mais família? Ah sim, claro são família, longe de ingratidão para estes membros que nos criaram, geraram, pagaram nossas contas, nos transformaram em gente e nos fizeram crescer a trancos e barrancos para formar uma “nova família”.

Mãe, esta sem discussões e mais detalhadas. Amor de mãe não tem reticencias (isto numa maioria relativa, tem mulher que não tem o “dom” desta grande magia delegada ao sexo feminino).

O ponto é esta nova família. É a urgente necessidade de mudar este conceito estagnado de que família são somente os que a vida nos impôs por natureza.

Então vem o “x” da dinâmica. Longe de minha família original, criei minha família baseada nas minhas emoções, seguramente plantadas pela família primeira.

A decepção vem quando a “família mater” não abrange você como família, não porque você seja um e membro de família mas porque o sentimento foi falecendo nas andanças pela vida e, de repente, o amigo de escola é mais importante que seu primo que você nunca vê e faz aquele esforço tremendo para encontra-lo, e cruelmente descobre que ele prefere os minutos com seu colega “bacana”, afinal você irá embora.

E não ha mal nenhum nisto, porque estamos falando de novos conceitos de família e isto não descaracteriza a família amplo senso.

Desclassifica a consideração, a humanidade, o companheirismo fraternal, aquele familiar que não existe no seio do subjetivo do outro.

Ficou confuso? Sim. Esta era a intenção. Quem é sua família?

 

Daniele de Cassia Rotundo