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04/05/2017
Espiritualidade e fidelidade

Desde tempos remotos o mundo sempre contou com seus líderes espirituais que influenciaram seus povos com a prática do bem e também com o conceito de um céu para onde vão os que morrem. Os gurus indianos também tiveram forte influência na vida de muitas pessoas, isso, mais enquanto eles existiram. Vários gurus se tornaram famosos como o Yogananda, o Rajneesh (Osho), o Maharishi, o Gurdjieff e etc. e aqui citando também como os mais influentes dentre todos: o Buda e o Jesus. Seus milhões de adeptos e praticantes de suas doutrinas (psicológicas ou metafísicas) estão propagados por todo o mundo, mesmo depois de tanto tempo decorrido após suas mortes. Tais iluminados, assim como eram considerados, foram únicos em suas práticas, suas sabedorias e suas religiosidades. Únicos porque nunca ouve entre seus devotos alguém que se equiparasse a eles em carisma, em magnetismo e poder de persuasão para substituí-los depois de suas mortes. Então aquele dizer que com o tempo “o discípulo supera o seu mestre”, neste caso é um sofisma.

Como fato, jamais ouve alguém que chegasse a ser igual ou superior ao Buda, naquilo que ele alcançou (nirvana) através de longos e penosos anos para conseguir. Depois de sua morte uma religião foi criada em seu nome, o budismo. Buda, então, foi e é adorado como a um santo, mas, seus devotos não se igualam a ele, pois, isso requer a constante prática dos ensinamentos dele, diferentes dos rituais oferecidos a ele. Ele se tornou religião e isso, pode-se traduzir pelos seus “seguidores” como “nós o amamos, o admiramos e como nós somos apenas budistas, nenhum de nós chegará a ser tão iluminado como ele foi”. Aqui parece que a religião fica de entremeio entre o adorado e seus adoradores “colocando cada um em seu devido lugar”, isso, significando que o Buda é o Buda e seus devotos serão para sempre apenas os seus devotos.

Também, nestes dois mil anos, nunca neste mundo alguém teve ou possa ter o mesmo nível de fé e de profundidade mística como a de Jesus. Mas, neste caso, a fragrante diferença entre ele e seus adoradores sobre a fé e sobre a espiritualidade, como se sabe, é porque ele é considerado santo. Sendo assim todos se acomodam, todos se confortam em não sentir a obrigação de serem como ele e nem ao menos imitá-lo. Bastam-lhes serem chamados de cristãos, frequentar as igrejas de devoção a ele, rezarem ou orarem para ele, embora, sem jamais conseguir seguir na plenitude os ensinamentos dele. Jesus foi o único. Ninguém se comparou a ele e como é considerado sendo um santo ninguém irá ser santo para equiparar-se a ele.

Talvez, por isso, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche que foi o maior criador de polêmica sobre o cristianismo escreveu: O único cristão que existiu morreu na cruz. Nessa frase ele quis significar que os cristãos, como cristãos eram apenas parciais.

Nesta nossa época também temos cristãos “só da boca pra fora”. Isso se sabe muito bem. Não poucos desses, se ganhassem dinheiro para serem ateus, bem que eles seriam e os ateus, então, até ficariam sendo a maioria. Ao contrário, se para terem a mesma fé que os religiosos têm os ateus ganhassem dinheiro, eles deixariam de serem ateus e até deixariam de existir como tais (risos). A fidelidade e a sinceridade quase sempre se transformam em conveniência quando o dinheiro “reza mais alto”. Quanto à espiritualidade, ela não sendo ilusão, para a maioria ela só existe como um conceito intelectual, não tendo, porém, existência real para o viver dela nos seus cotidianos. Contudo, o que se buscou realçar neste texto foi o fato de tais iluminados não terem tido substitutos com o mesmo fascínio e poder para fomentarem nas pessoas o desejo de expandir suas consciências na direção do desenvolvimento mental, espiritual e na direção do viver pelos reais valores da vida. E assim caminha a humanidade. O povo sempre sendo povo e sempre tendo a “necessidade” de ter seus ídolos para admirar. Isso, de geração em geração só o mantém na condição de subordinado como tendo um papel secundário na existência.

Altino Olympio