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27/07/2017
Deus nos livre dos parentes

Um homem da cidade grande, numa surpresa recebeu em sua casa um primo do interior, um sitiante que há muito tempo não via. Mas, ele tinha um compromisso muito importante: Uma recepção na casa do governador. Ao se desculpar para o primo que precisava se ausentar, ele explicou aonde ia. O primo demonstrou vontade de acompanhá-lo, mas, ele recusou dizendo que aonde ele ia o primo não poderia ir. Lá, disse ao primo, os maiores figurões da cidade e da política estarão presentes e você ficará sem ambiente, ainda mais que você tem um linguajar muito comum e mesmo vulgar e poderá me comprometer, me envergonhar. Entretanto, tanto o primo do interior insistiu para ir também dizendo que nunca tinha ido a esses lugares de gente fina e influente e se ele fosse também, ficaria calado.

O primo da cidade cedeu diante daquela insistência e promessa daquele parente de que ele nada faria ou diria que pudesse comprometê-lo. Até emprestou um traje adequado para o primo ir com ele. E lá foram eles para o palácio do governo. Que luxo, quantas madames sofisticadas, quantos comestíveis nunca vistos e saboreados pelo rapaz humilde do interior. E ele esteve se portando muito bem. Sendo parte de conversas, mesmo sem quase nada entender, ele só ouvia, assentia ou negava quando percebia que era preciso, mas, apenas com meneios de cabeça. O primo da cidade que esteve numa vigilância constante sobre ele começou a sentir remorso ao pensar que seu primo era um grosso e vulgar que só falava besteiras. Como ele estava tendo um comportamento exemplar, resolveu parar de vigiá-lo e assim despreocupado deixou-o sozinho numa conversa entre algumas mulheres e foi pra outro lugar conversar com outras pessoas.

Mas, estando à distância, ao olhar para onde estava o primo do interior ele viu que as mulheres que estavam com ele, apressadamente e resmungando se afastaram dele. E ele sozinho ficou sentado numa cadeira com uma cara de bocó. O primo cidadão correu pra lá para saber o que havia acontecido. Já nervoso descontrolado perguntou:

--O que você fez? O que você falou ai para que aquelas mulheres se retirassem daqui? Se você falou algo impróprio, você vai ver, você vai...

--Não fiz nada! Elas até gostaram de mim. Disseram que sou um belo rapaz e muito educado. Depois, a conversa aqui foi sobre veneno de matar rato. Aquela mulher do cônsul disse que na casa dela apareceu um rato e assustou todo mundo lá. Daí a esposa do governador falou que ela sabia de um veneno muito forte e era só colocar no buraco do rato e o rato logo morre. E eu só perguntei pra ela, se ela mesma segurava o rato ou se pedia para alguém segurá-lo para que ela colocasse o veneno no buraco dele. Foi só isso! Não sei o porquê delas saírem bufando daqui.

--Oh mente poluída, santa ignorância, caipira de merda. A esposa do governador esteve se referindo a algum buraco existente em algum lugar da casa onde o rato se esconde e era onde ela colocava o veneno. Burro! Burro! Ela não se referiu ao buraco que o rato tem debaixo do rabo.

--Calma... Calma primo. Não fique zangado comigo. Como é que eu iria adivinhar que era noutro buraco? Ela não explicou!

--Nunca mais vou te levar para onde vou. Você só me envergonha.

--Também não quero mais ir com você. Vir aqui de lá do mato para ouvir falar de buraco de rato? Eu hein? Nunca mais. Hoje mesmo volto pro meu sítio. Lá tudo é natural e não tem buracos confusos como tem por aqui.

 

Altino Olympio