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17/08/2017
A droga da felicidade

“Próxima estação Vila Aurora. Desembarque pelo lado direito do trem. Cuidado com o espaço vazio entre o trem e a plataforma”. Esses dizeres vêm da gravação de uma voz feminina que ressoa em todos os vagões do trem sendo ensinamentos valiosos para o “Jardim da Infância” habitado por passageiros adultos. Eles evoluíram, pois, seus brinquedos atuais são modernos e tecnológicos. Até parece que ficam hipnotizados fitando seus pequenos aparelhos contendo vários nomes como: Smartphones, tablet, iPhone, iPod e etc. Nos vagões dos trens, com tantos adeptos dessa última “onda” de aprisionamento de mentes, o silêncio deveria prevalecer, mas, não. Sempre um ou outro distraído fica falando (gritando) pelo seu aparelho como se estivesse em sua casa e como se quem o estivesse ouvindo do outro lado da comunicação eletrônica fosse meio surdo.

Hoje, embarcar nos trens de subúrbio é uma higiene mental. Não se têm mais pensamentos próprios preocupantes. Pois, outros pensamentos vindos de outros e aos berros são mais importantes, como: Água gelada e água de coco, guaraná, amendoim salgado, amendoim doce, batata frita, chocolate, balas finas, pen drive, fone com microfone e etc. tudo vindo de um “desfile de modos” dos que alardeiam seus produtos para vender enquanto caminham pelos espaços entre os assentos laterais dos vagões do trem. Ninguém se desagrada com aquela voz feminina gravada e desconsiderada que diz “O comércio ambulante nos trens é proibido. Não incentive essa prática”. E não é que os tais ambulantes quase já estão sendo em maior quantidade do que a quantidade dos usuários que diariamente se utilizam dos trens? Que bom! Monotonia nunca mais (risos).

Mas, voltando aos aparelhos tecnológicos acima citados, observando quem distraído se utiliza deles em público, parece que todos são e estão muito felizes e até obcecados por eles. Isso me lembra do livro “Admirável Mundo Novo” escrito pelo saudoso Aldous Huxley em 1931. Trata-se de uma ficção sobre como no futuro os seres humanos iriam ser amansados pelo Estado, ou, sistema governamental. No livro trata-se de como a sociedade do futuro iria abolir, anular seus valores como o da família, o da religião, o da privacidade, o da dúvida, o do amor, o da insatisfação e etc.

Todos os cidadãos seriam expressamente controlados pelo Estado... ... Cultura, entretenimento, trabalho, relações sociais e etc. e quando alguns desses valores deixassem de significar algo para alguém, então, chegaria à hora de dar-lhe para ingerir o “Soma”. Um comprimido maravilhoso que elimina qualquer insatisfação, e só tem o efeito de causar felicidade. Será que “os somas” desta época seriam esses trecos que absorvem as consciências de quem se utiliza deles, como, o telefone celular com sua multiplicidade de recursos para distrações, incluindo a distração pelo facebook das redes sociais?

Só sei que já pediram adeus para as crianças e para sempre as brincadeiras de rua, o “brincar de roda”, o bater peteca, o pular corda, o brincar de piques, o brincarem de casinha, o brincar de rodar pião, o jogo de bolinhas de gude, trocar figurinhas e tantas outras brincadeiras que desapareceram do cotidiano infantil, substituídas que foram pelo êxtase que proporcionam esses aparelhos ultramodernos de comunicação e de distração. Para a alegria dos pais as crianças com três, quatro ou cinco anos de idade já são “veteranas” na arte de lidar com esses apetrechos eletrônicos desta atualidade. São de causar inveja para aqueles mais velhos, adultos que não se adaptam a essas tecnologias modernas. Entretanto, o trem do progresso da ciência da humanidade sempre vai descobrindo e inventando novos “somas” para ela ser feliz mesmo se estiver numa situação infeliz.

Altino Olympio