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13/11/2017
Foram bilhões que desapareceram antes

Recentemente eu soube de um conhecido que não se conforma com o falecimento de sua esposa, embora, esse triste fato tenha ocorrido há quase um ano. Por isso, lembrei-me também de outros dessa mesma situação triste e inconsolável. Lembro-me de dois que, antes de morrerem também, semanalmente iam “visitar” o túmulo de suas saudosas no cemitério. Para outros que estejam ou vão estar com essa mesma situação, uma reflexão sobre ela poderá esclarecê-los ou lembrá-los dos “imprevistos” da vida.

Pra começar, desde os primórdios da incidência da vida na terra, ela significa mudança. “Nada do que é continua como é”. As pessoas também não fogem a essa regra. Desde o nenê até o morrer, todos sabem das mudanças que existem no nosso corpo. Elas, além do inevitável e do tão indesejável envelhecer podem trazer doenças (os imprevistos as vida) que levam pessoas a morrerem. Quando alguém morre depois de ter vivido muitos anos com outro alguém, não é incomum aquele que maritalmente ficou só, sofrer e se desesperar.

Se servir como lenitivo, em todas as épocas passadas quando bilhões de pessoas morreram, quantos e quantos também não se desesperaram quando perderam seus entes queridos? O que houve com os que se desesperaram? Eles morreram como suas épocas morreram também. Daquelas épocas ou daqueles séculos passados alguém deixou algum vestígio sobre suas vidas? Alguém se lembra de alguém que tenha existido e morrido na época anterior a esta em que estamos vivendo? Mesmo nesta nossa época, muitos dos que “partiram” já não são mais lembrados, a não ser apenas pelos seus familiares, mas, somente até enquanto eles viverem, porque depois...

Nossa sina é esta: Sermos descartados do mundo para que outros nasçam para nos substituir. Conforme o filme de ficção “Matrix” o mundo não lhe pode ficar sem seus artistas ou seus atores temporários. E nós somos os artistas temporários. Somos do elenco mundial de atores. Somos crianças, depois somos adultos, somos noivos e depois casados, somos pais, somos democratas, somos comunistas, somos terroristas, somos políticos, somos ditadores, somos religiosos, somos ateus, somos felizes e infelizes, somos compradores, vendedores, investidores, somos pedreiros, carpinteiros, lixeiros, médicos, engenheiros, advogados, somos honestos, desonestos, somos adivinhos, somos esotéricos, filósofos, cientistas, fazendeiros, trapaceiros mentirosos, bancários, banqueiros, pobres e ricos e etc.

Somos mesmo participantes de um grandioso espetáculo para este mundo. Mas, quando nós envelhecemos ele “dá um jeito” de se livrar de nós (risos). E tudo aquilo que nós fomos com tanto empenho não vai servir para mais nada para pouco antes de irmos daqui e mesmo para depois de termos ido (risos). Para o século ou a época que virá depois desta nossa, nós seremos esquecidos como se não tivéssemos existido, da mesma maneira que nós desconsideramos e nem pensamos sobre a existência daqueles que nos antecederam nas épocas ou séculos passados. Daqueles que existiram e lembramos, lembramos porque fizeram parte da história, bem ou mal contada. E não adianta reclamar. Depois que nos fazem nascer neste mundo tão perturbado e nesta vida tão “maravilhosa”, nunca seremos donos dela. Ela é que é a nossa dona e, sempre nos impondo improvisos, sendo que alguns nos deixam cicatrizes enquanto vivemos.

Os seres humanos (nem todos) são umas criaturas bem engraçadas. Tão cheios de coisinhas, ambições, vaidades, superstições, crenças, hipocrisias, gostam de fama, de poder, de se apaixonar, de mentir e enganar, transar, conquanto que não se lembrem que tudo se reduzirá em ilusões por causa da infalibilidade de suas mortes que a tudo desfaz. Depois que se nasce nós somos, sem qualquer escapatória, “obrigados” a viver a vida seja ela boa ou má. Ela parece ser má quando morre alguém tão querido de alguém. Mas, boa, enquanto alguém seja feliz com alguém.

Aqui neste mundo tão redondo, mais seus habitantes humanos foram condicionados a “ganharem” para si o que querem possuir, inclusive pessoas. Entretanto, não se condicionaram, de fato, a “perderem”, principalmente as pessoas de suas estimas. Então, para aqueles insistentes em suas dores por terem perdido alguém convém repetir: No passado bilhões de pessoas morreram e bilhões desta época também vão morrer e os bilhões de pessoas do futuro nem sequer vão dedicar seus tempos para pensar nos esquecidos dos séculos passados. E assim a humanidade sempre caminha para o seu fim seja em qualquer das épocas a que ela pertença para ser substituída e assim sucessivamente. Oremos irmãos enquanto ainda não somos habitantes do mundo dos eternos esquecidos (risos).

 

Altino Olympio